Operação norte-americana na Síria matou mais de 30 jihadistas

Esta foi apenas a segunda vez que há informação sobre a entrada de forças especiais dos EUA dentro do país.

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Operação foi levada a cabo por elementos da força especial Delta Oleg Popov/Reuters

O raide norte-americano na Síria, uma rara incursão de uma equipa das forças especiais dos EUA, deixou 32 mortos nas fileiras do Estado Islâmico, incluindo um tunisino responsável por vendas de petróleo e gás no mercado negro. OS EUA tinham falado numa "dúzia" de mortos entre os jihadistas

Os Estados Unidos têm recorrido sobretudo a raides aéreos contra o Estado Islâmico e a Administração Obama prometeu não pôr soldados a combater no terreno na Síria, embora não excluísse operações de forças especiais. A acção de sábado pode indicar uma viragem e que estas operações serão mais frequentes.

Esta foi apenas a segunda vez que se sabe de uma operação norte-americana com militares no interior da Síria – a primeira foi a tentativa falhada de resgate de reféns incluindo James Foley e Steven Sotloff, em Julho passado, em Raqqa. Quando as forças especiais chegaram ao local, os combatentes do autoproclamado Estado Islâmico (EI) tinham transferido os reféns, que foram depois mortos. Só houve notícias da operação após a morte de Foley, com a divulgação oficial precipitada por uma investigação do Washington Post.

A Administração americana apresentou a operação de sábado como um sucesso, embora adiantasse que o objectivo era capturar, e não matar, Abu Sayyaf; este enfrentou as forças americanas e assim foi morto. A sua mulher foi capturada e estava a ser interrogada no Iraque – responsáveis esperam que possa dar informação útil, nomeadamente sobre outros possíveis reféns (há mais americanos desaparecidos na Síria) e sobre casos antigos, como o de Kayla Mueller (que o EI diz ter morrido numa operação da força aérea jordana). 

Foi ainda libertada uma mulher iraquiana de etnia yazidi que estaria a ser usada como escrava pelo casal.

Responsáveis americanos falaram em “cerca de uma dúzia” de mortos na operação, mas o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que monitoriza o conflito, diz que morreram ao todo 32 pessoas, incluindo outros três responsáveis do EI, um sírio encarregado de comunicações, e dois magrebinos, um deles o "número dois" da defesa do movimento jihadista, do outro o cargo não era claro.

Responsáveis descrevem um raide preparado meticulosamente, com a equipa a visionar imagens do local, um complexo construído para trabalhadores do petróleo pelo regime sírio e que foi aproveitado pelo EI, durante semanas. A Casa Branca não queria arriscar uma operação que corresse novamente mal.

Depois de dada a luz verde à acção pelo Presidente Barack Obama, helicópteros e aviões em que iam os elementos da força especial Delta partiram do Iraque e chegaram ao complexo perto de Deir al-Zour, no Leste da Síria, pelas 4 da manhã (hora local). Ficaram imediatamente sob fogo dos combatentes do Estado Islâmico (responsáveis descrevem um pandemónio), e envolveram-se em combate muito próximo, mas conseguiram sair sem baixas ou feridos do seu lado, segundo fontes norte-americanas.

Fontes sírias dizem que tudo demorou cerca de meia-hora. O EI ainda chamou reforços mas os camiões com combatentes chegaram já depois de os americanos terem partido.

O objectivo declarado foi capturar Abu Sayyaf por este ser o responsável das vendas de petróleo, e a acção foi descrita pela Casa Branca como um “golpe significativo” ao financiamento do Estado Islâmico, mas o jornal britânico The Guardian põe outra hipótese – que o verdadeiro alvo do raide não fosse Abu Sayyaf mas outro importante líder do Estado Islâmico que tenha conseguido escapar.

Nos EUA um responsável descreveu ao Washington Post Abu Sayyaf como tendo um cargo “relativamente alto” na hierarquia do Estado Islâmico mas não entre os quatro mais importantes militantes do grupo. Mas o Guardian diz que o seu nome não está entre a lista de pelo menos dez membros do EI com recompensas pela sua captura ou morte. Responsáveis iraquianos notam que Sayyaf era muito próximo do principal porta-voz do grupo Abu Mohammed al-Adnani, e alguns desconfiam de que Adnani possa ter sido o alvo do raide.

Enquanto isso, o EI conseguiu um avanço no Iraque, em Ramadi, que é a capital da província de Anbar. Foi o seu avanço mais significativo este ano, sublinha o Guardian, um avanço conseguido mesmo apesar das operações contra o movimento.

Na Síria, o EI continuava a ameaçar Palmira, cidade importante não só por estar na intersecção  de estradas entre Damasco e Homs, como pelas suas ruínas que são património mundial da Unesco.

Mas segundo o Observatório dos Direitos Humanos, os combatentes do EI retiraram-se das partes da cidade que tinham conseguido conquistar às tropas de Bashar al-Assad, mas continuavam a controlar uma pequena aldeia a norte.

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