Netanyahu anuncia Governo com maioria tão fina que não convence

Primeiro-ministro de Israel quer incluir o principal partido de oposição no executivo, e por isso guardou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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Naftali Bennet e Benjamin Netanyahu: a coligação de Governo é tão frágil que nenhum analista acredita que possa durar Gali Tibbon/AFP

Benjamin Netanyahu anunciou o seu novo Governo, mesmo no limite do prazo, e com a menor maioria possível (61 em 120 deputados). Com analistas a garantir que este executivo que agrupa cinco partidos é demasiado fraco e fragmentado para durar, o primeiro-ministro continua a tentar juntar mais um partido ao Governo.

Um responsável do Likud confirmou à rádio Israel que Netanyahu está a guardar para si o Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o objectivo de o poder oferecer ao líder da União Sionista (centro-esquerda), Isaac Herzog, para que este entre mais tarde no Governo. Até agora, este executivo é marcado por uma tendência nacionalista e pró-colonatos, com especial destaque para o partido Casa Judaica de Naftali Bennet.

O político que Netanyahu quer trazer para o Governo reagiu ao anúncio da coligação com palavras duras, classificando o executivo como “o mais fraco, o mais estreito, o mais susceptível a extorsão da História de Israel”. A cedência do Ministério da Justiça ao partido nacionalista Casa Judaica, defendeu Herzog, mostra que Netanyahu se preocupa mais com a sua sobrevivência do que com o povo de Israel.

“De certo modo, Netanyahu não conseguiu formar um governo, mas ganhou tempo para formar outro”, comentou um observador político, não identificado, ao diário israelita Ha’aretz.

“Este Governo irá conseguir acabar o seu mandato”, garantiu, por seu lado, Bennet na conferência de imprensa conjunta de anúncio da coligação. Já Netanyahu não escondeu a preferência por um executivo mais alargado: “61 é um bom número”, disse o primeiro-ministro. “Mais de 61 é um número ainda melhor. Começamos com 61. Temos muito trabalho à nossa frente”, disse.

Para além da ténue maioria, os partidos têm interesses contraditórios — a Casa Judaica, que conseguiu o Ministério da Justiça, quer cortar os poderes do Supremo Tribunal para vetar legislação, enquanto o segundo maior partido no Governo, Kulanu (de um antigo ministro do Likud), se opõe a esta mudança. Para além destes dois partidos, entram ainda no executivo dois partidos ultra-ortodoxos (Shas e Judaísmo Unido da Torah).

“O que se vê aqui é uma grande confusão política”, comentou ao New York Times Eytan Gilboa, professor na Universidade Bar-Ilan, de Telavive. “Ninguém no seu perfeito juízo acredita que isto irá durar nem a curto prazo.”

Netanyahu convocou eleições há cinco meses, com o Governo a um terço do mandato (tinha sido eleito a última vez em 2013), acusando ministros de levarem a cabo um golpe contra si.

O primeiro-ministro conseguiu o seu quarto Governo com 30 deputados no Parlamento, mais seis do que o partido de Herzog, depois de sondagens preverem uma derrota. Foi muito comentada a “magia” de Netanyahu quando venceu a eleição em Março, mas esta parece ter-se perdido nas negociações de coligação, por uma combinação de más tácticas negociais, arrogância e animosidade entre Netanyahu e outros líderes, enumera o New York Times.

Em termos internacionais, a coligação nacionalista e pró-colonatos arrisca-se a chocar, ainda mais, com os aliados Estados Unidos e União Europeia. A Administração Obama felicitou o novo primeiro-ministro, mas a relação entre os dois países passa por um momento de tensão. Enquanto isso, em Bruxelas discutem-se modos de distinguir os colonatos judaicos em território ocupado do resto de Israel, por exemplo na importação de produtos para a União Europeia.  

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