Nem um deputado da oposição eleito nas legislativas bielorrussas

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Alexander Lukachenko Viktor Drachev/AFP

As eleições legislativas de domingo na Bielorrússia produziram o resultado esperado – e que muitos criticaram como um sufrágio de fachada: um novo Parlamento totalmente dominado pelas forças favoráveis ao autocrata Presidente, Alexander Lukachenko. Nem um só candidato da oposição conseguiu conquistar um mandato para a próxima legislatura.

Nas eleições estava em jogo a escolha de 110 deputados desta nação que Lukachenko governa desde 1994.

A oposição tinha feito um apelo claro à abstenção, desafiando os 9,5 milhões de eleitores desta antiga república soviética a irem antes à pesca ou apanhar cogumelos – práticas muito comuns dos bielorrussos aos fins-de-semana.

As autoridades reportaram, porém, uma participação de mais de 74% e Lukachenko não tardou em descrever os partidos da oposição como “cobardes”, que se retiraram da luta antes mesmo de esta começar.

A oposição na Bielorrúsia é praticamente inexistente, fruto de uma governação de mão-de-ferro exercida pelo Presidente nestas quase duas décadas em que activistas dissidentes foram facilmente aprisionados. Não existe liberdade de imprensa e poucos são os media independentes capazes de furar os obstáculos erguidos pelo aparelho de Estado.

No relatório apresentado esta manhã, a missão de observadores eleitorais da Organização de Segurança e Cooperação na Europa chumbou o sufrágio como não tendo decorrido de forma livre nem parcial – algo que se repete, aliás, desde as eleições de 1995. “Uma eleição livre implica que as pessoas são livres de se exprimir, de se organizar e de concorrer a um mandato. Mas não vimos nada disso durante a campanha”, sublinhou o coordenador da missão, Matteo Mecacci.

Nesta avaliação, os observadores internacionais notam ainda que as autoridades eleitorais não foram imparciais na condução do sufrágio e expressam ainda reservas sobre a contagem dos votos.

“As eleições foram feitas elegendo 109 deputados”, confirmou em conferência de imprensa a chefe da Comissão Central Eleitoral, Lidia Iermochina. Questionada se algum candidato da oposição obteve assento parlamentar, limitou-se a responder: “Parece-me muito pouco provável”.

Apenas um assento parlamentar permanece por definir, mas o único candidato da oposição naquela corrida não conseguiu conquistar mais de metade dos votos da circunscrição, o que forçará a uma segunda volta, detalhou ainda esta responsável.

Segundo Iermochina, o sufrágio teve uma taxa de participação de 74,3%, incluindo os cerca de 26% registados no voto antecipado – uma prática comum na Bielorrússia, em que são recebidos, dias antes das eleições, os votos de estudantes, professores, pessoal militar e polícia.

Notícia actualizada às 12h20
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