Kerry foi a Bagdad pedir que o Iraque trave o envio de armas iranianas para a Síria

Visita surpresa do secretário de Estado norte-americano visa pressionar Governo de Nouri al-Maliki. Rota pelo Iraque tornou-se a principal fonte de armamento para Bashar al-Assad.

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John Kerry com Nuri Al-Maliki em Bagdad JASON REED/REUTERS

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez uma visita surpresa a Bagdad este domingo. Na mala levava a intenção de pedir ao primeiro-ministro Nouri al-Maliki uma maior cooperação do Governo iraquiano para lidar com a guerra civil na Síria: pediu-lhe que o Iraque trave o envio de armas iranianas que estão a ser canalizadas para o regime do Presidente Bashar al-Assad, que retiram força ao embargo internacional.

Em causa estão os voos iranianos que cruzam o espaço aéreo iraquiano com direcção à Síria, que se suspeita que levam armas para Assad reprimir a revolta que dura já há mais de dois anos e que as Nações Unidas dizem que já fez pelo menos 70 mil mortos. O Iraque só inspeccionou dois destes voos desde Julho – e estão a acontecer diariamente, disse uma fonte do Departamento de Estado ao diário New York Times.

“Ele [Kerry] vai ser muito directo com o primeiro-ministro Maliki sobre a importância de parar com os voos iranianos e os trânsitos pelo território iraquiano ou, no mínimo, sobre a necessidade de inspeccionar cada um dos voos”, disse uma fonte oficial norte-americana à agência Reuters, que também não quis ser identificada.

O corredor aéreo entre o Irão e a Síria que passa sobre o Iraque tornou-se a principal rota de fornecimento de armas ao regime de Assad. Rockets, mísseis anti-tanque, morteiros, granadas lançadas por rockets, e até mercenários iranianos, estão a ser canalizados para a Síria através do Iraque, dizem os Estados Unidos. E se isto acontece por via aérea, há também rotas terrestres, diz o New York Times.

A Síria é o principal aliado árabe do Irão, e tem apoiado o movimento islamista libanês Hezbollah, que tem sido também suportado pelo regime de Teerão. O Governo iraquiano, onde os xiitas são predominantes, tem também interesses na guerra civil da Síria: Maliki teme que a queda de Assad possa levar a que os sunitas tomem o poder em Damasco, e que isso dê novo fôlego aos sunitas no Iraque – onde um movimento islamista sunita, ligado à Al-Qaeda, está de novo a cometer atentados de grande impacto. Por isso o Governo iraquiano tem estado a tolerar os voos iranianos que levam armas para a Síria. 
 

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