Justiça francesa manda arrestar bens de Bernard Tapie

Inquérito a indemnização atribuída ao empresário francês num caso que envolve o banco Crédit Lyonnais e também implica a actual directora-geral do FMI, Christine Lagarde.

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Tapie é acusado de “fraude organizada” FRED DUFOUR/AFP

A Justiça francesa ordenou o arresto de bens do empresário Bernard Tapie, acusado de “fraude organizada” num caso em que teve intervenção como ministra Christine Lagarde, actual directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A decisão de apreender bens de Tapie foi tomada pelos juízes do caso a 28 de Junho, com o acordo do ministério público de Paris, noticia nesta quarta-feira o diário Le Monde.

Entre os bens visados pela ordem de apreensão estão, segundo o jornal, seguros de vida  subscritos por Tapie em 2008, cujo valor de compra foi estimado pelos investigadores em 20,7 milhões de euros; participações de 69,3 milhões de euros num palacete, em Paris; e uma “villa” em Saint-Tropez, na Côte d’Azur, que o empresário comprou em 2011, por 48 milhões de euros.

Os juízes apreenderam também seis contas bancárias, um contrato de seguro de vida detido pela holding Groupe Bernard Tapie, com sede em Bruxelas, e participações no grupo Hersant Media

O casal Tapie, Bernard e a sua mulher, Dominique, têm 15 contas bancárias em França e no Mónaco, acrescenta o Monde.

Os juízes consideraram, segundo o jornal, que Tapie foi “o principal beneficiário de pagamentos” feitos pelo Consortium de Réalisations (CDR) – um organismo estatal encarregado de saldar o passivo do banco Crédit Lyonnais– num “esquema em que aparece como um dos organizadores”.

Tapie, agora com 70 anos, chegou a ser ministro, com o Presidente François Mitterrand, dirigiu o clube de futebol Olympique de Marselha e teve interesses na imprensa.

O caso iniciou-se em 1993 e tem a ver com a venda litigiosa da empresa de equipamento desportivo Adidas, em que Tapie tinha uma participação maioritária, pelo Crédit Lyonnais. Depois de o banco ter ficado com a empresa o empresário exigiu uma indemnização.

O banco, entretanto, quase faliu, enquanto o litígio com Tapie se arrastava na Justiça. Em 2007, o caso passou para um tribunal arbitral, que apenas tem competências para resolver litígios comerciais e procurar obter compromissos entre as partes. O processo de arbitragem culminou com a atribuição de uma indemnização de 403 milhões de euros ao empresário, em 2008, recorda a AFP. A decisão causou escândalo em França. Agora, os juízes suspeitam que a arbitragem foi manipulada a favor de Tapie.

Para além de Tapie, quatro outras pessoas, entre os quais Maurice Lantourne, advogado do empresário, estão acusadas de  “fraude em grupo organizado”.

É em 2008 que Largarde, então ministra da Economia do Governo Sarkozy, entra no caso, ao aconselhar a filial do Crédit Lyonnais, a aceitar, contra a opinião de especialistas, a decisão do tribunal arbitral.Surgiram suspeitas de que o então Presidente, Nicolas Sarkozy, estivesse a favorecer Tapie pelo apoio que dele recebeu na eleição de 2007.

Em 2011 soube-se que poderia ser investigada no processo de pagamento da indemnização, por desvio de fundos públicos e abuso de poder. No âmbito do processo, a actual directora do FMI foi considerada “testemunha assistida”, uma figura entre testemunha e arguido. Em Março, a casa de Lagarde em Paris foi alvo de buscas pela polícia.

 
 

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