Islamistas e seculares recuam, mas Governo da Tunísia pode não sobreviver

Partido Congresso para a República decide manter-se no Governo, islamistas propõem executivo de unidade nacional.

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Hamadi Jebali não abdica da ideia de um Governo tecnocrata Anis Mili/Reuters

Depois de seis dias marcados pelo acentuar das divisões no Governo de coligação da Tunísia, o primeiro-ministro do país que marcou o ritmo da Primavera Árabe começa uma nova semana a respirar de alívio.

A instabilidade é tal que o balão de oxigénio pode durar entre poucas horas e alguns dias, mas a Tunísia desta segunda-feira já não é a Tunísia de domingo – um dia depois de ter anunciado a sua saída do Governo liderado pelos islamistas do Ennahda, o partido secular Congresso para a República (CPR) fez marcha atrás. "O partido decidiu suspender as demissões dos seus ministros por uma semana, para possibilitar a realização de mais debates sobre a formação de um [novo] Governo de coligação", anunciou o secretário-geral do CPR, Mohamed Abbou, em conferência de imprensa.

O mais recente período de instabilidade na coligação que junta os ilamistas do Ennahda e dois partidos seculares começou na quarta-feira passada, com o assassínio do opositor de esquerda e activista dos direitos humanos Chockri Belaid. Para acalmar os ânimos, o primeiro-ministro, Hamadi Jebali, anunciou que pretendia dissolver o Governo e nomear um executivo formado por tecnocratas sem filiação partidária, para gerir o país até à realização de eleições no final deste ano.

O anúncio da demissão dos três ministros nomeados pelo CPR, no domingo, não foi uma resposta àquela intenção de Jebali. "Não estamos a reagir ao plano do primeiro-ministro para formar um Governo de tecnocratas", disse no domingo o porta-voz do CPR, Samir Ben Amor, citado pela agência Reuters. O mesmo responsável sublinhou que essa decisão já estava a ser equacionada há mais tempo: "Já tínhamos avisado há mais de uma semana que, se os ministros [islamistas] dos Negócios Estrangeiros e da Justiça não fossem mudados, deixaríamos o Governo", afirmou então Ben Amor.

Com o recuo desta segunda-feira, o CRP poderá permitir a sobrevivência política do primeiro-ministro nos próximos tempos. Hamadi Jebali, considerado um moderado, não tem tido uma vida fácil na liderança do Governo. Para além da coordenação entre os dois partidos seculares e o seu partido islamista, o primeiro-ministro lida também com as divisões no interior do Ennahda, cujo líder se opõe à formação de um Governo transitório formado por tecnocratas. Mas até essa divisão parece ter-se atenuado, a julgar por uma informação avançada esta segunda-feira pela Associated Press: o líder do partido islamista (de que Hamadi Jebali é secretário-geral), Rachid Ghannouchi, afirmou que "está iminente" um acordo para a formação de "um Governo de unidade nacional".

"Estamos a caminhar para um entendimento após intensas discussões no domingo com os partidos políticos e com os grupos na assembleia nacional, que continuam hoje . Estamos a caminhar para a formação de um Governo de unidade nacional”, disse Ghannouchi, citado pela AP.

Mas Hamadi Jebali – que não reagiu ainda a esta opção de unidade nacional – foi claro nas suas intenções: mesmo contra a vontade do seu próprio partido, sublinhou que a solução passa por um Governo de transição com ministros sem filiação partidária e fez saber que apresentará a sua demissão se os partidos escolherem qualquer outra via.
 
 
 

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