Islamistas admitem derrota na Tunísia

Partido que inclui membros do antigo regime venceu legislativas e pode vencer também as presidenciais.

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Falta ainda contar muitos votos na Tunísia Fethi Belaid/AFP

O vencedor das primeiras eleições pós-revolução na Tunísia já admitiu a derrota nas legislativas de domingo. Na primeira ida às urnas depois de concluído o processo constitucional, à frente dos islamistas moderados do Ennahda ficou então o Nidaa Tounès, partido secular com membros que vão da esquerda ao centro-direita e muitos caciques do RCD, o partido de Ben Ali.

Ainda não há resultados oficiais, mas o líder histórico do Ennahda, Rached Ghannouchi, felicitou o presidente do Nidaa Tounès, Béji Caid Essebsi, escreveu no Twitter a sua filha, Soumaya Ghannouchi, publicando uma fotografia do pai ao telefone. O partido islamista já o admitira, afirmando que a diferença entre os dois deverá ser pelo menos de uma dezena de lugares no Parlamento de 217.

As mais importantes eleições da história do país de pouco de mais de 10 milhões de habitantes, que desencadeou uma onda de protestos no mundo árabe quando derrubou a ditadura, em Janeiro de 2011, decorreram sem incidentes e com uma participação de 61,8% (números ainda provisórios).

“Temos estimativas que ainda não são definitivas. Nós teremos tido cerca de 70 e eles 80”, disse à AFP Zied Laadhari, porta-voz do Ennahda, referindo-se aos dados recolhidos pelos observadores do partido que participam na contagem de votos. Logo no domingo, os membros do Nidaa Tounès tinham-se mostrado optimistas e a sua página no Facebook já ostentava uma afirmação com pouco espaço para dúvidas: “Nós ganhámos, viva a Tunísia”.

Tanto o Ennahda – que escolheu apostar tudo nas legislativas e não tem candidato presidencial, na lógica de um país em transição onde se devem evitar fracturas e dividir o poder – como o Nidaa Tounès tinham prometido governar em coligação. Mas já se antecipava que os resultados obrigassem o vencedor a fazê-lo: com um sistema eleitoral que tende a beneficiar a entrada de pequenos partidos na Assembleia, a maioria de 109 lugares implica sempre negociar.

Nem o Ennahda nem o Nidaa Tounès excluíram à partida uma grande coligação. Mas o jornalista Mourad Teyeb duvida deste cenário: “Há demasiadas contradições e diferenças entre ambos e o Nidaa não terá dificuldades em formar uma coligação no Parlamento e no Governo”, diz ao PÚBLICO. Na verdade, recorda Teyeb, o partido de Caid Essebsi já tem aliados, desde “partidos que o integraram e se separaram mas continuam 'amigos' a partidos com ex-membros e personalidades do RCD, como o Al-Moubadara”.

Essebsi, de 87 anos, candidato favorito à presidência nas eleições de 23 de Novembro, foi ministro do primeiro Presidente da independência, Habib Bourguiba, e teve inúmeros cargos ao longo dos 23 anos de reinado de Ben Ali.

Se o Nidaa Tounès vencer tudo, antecipava antes das legislativas o académico português Álvaro de Vasconcelos, que seguiu de muito perto a transição, “pode vir a impor-se como um regime autoritário e anti-islamista”, alcançando pela via eleitoral o que os militares fizeram com um golpe no Egipto.

 
 
 

 


 

 

 

 

 

 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 
 

 

 
 

 

 

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