Irão envia à ONU proposta de paz para o Iémen que pouco mudará

Plano surge no mesmo dia em que as Nações Unidas actualizaram os números para o conflito. Já morreram mais de 750 pessoas desde o início dos raides aéreos e 12 milhões têm falta de alimentos no país.

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Há 150 mil pessoas deslocadas no Iémen devido aos conflitos e 12 milhões com falta de alimentos Saleh al-Obeidi/AFP

O plano de paz enviado nesta sexta-feira pelo ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, ao secretário-geral das Nações Unidas não avança mais do que as quatro medidas já anunciadas nas primeiras semanas de Abril. Zarif apela ao cessar-fogo e ao fim das operações de forças estrangeiras no Iémen, à entrada de um programa de assistência humanitária no país, à formação de um Governo “inclusivo de união nacional” e à promoção do diálogo nacional.

Há semanas que o Irão anunciara que iria entregar um plano para o cessar-fogo no Iémen. Este acabou por coincidir com a actualização dos dados das Nações Unidas para as consequências do conflito e com o apelo de Ban Ki-moon para o fim das hostilidades. “Peço um cessar-fogo imediato no Iémen para todas as facções”, afirmou o secretário-geral da ONU em Washington, nesta sexta-feira.

O plano de paz iraniano sublinha a necessidade de haver um fim para os bombardeamentos da coligação de dez países islâmicos, que é liderada pela Arábia Saudita e apoia o Presidente Abd Mansour Hadi, exilado em Riad. “É imperativo que a comunidade internacional se envolva de maneira mais directa de maneira a pôr um fim aos ataques aéreos sem sentido e a estabelecer um cessar-fogo”, escreveu o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, citado pela Reuters.

Mas as alianças de poder no conflito iemenita fazem com que os apelos iranianos tenham pouco efeito na coligação que conduz os bombardeamentos.

O conflito no Iémen tornou-se numa guerra de proximidade entre os países de maioria sunita na região – destaque para a Arábia Saudita – e o Irão, que tem uma maioria xiita e que apoia os rebeldes huthis, também xiitas, e que controlam grande parte do país. Por essa razão, e como escreve a Reuters, os países da coligação “não consideram o Irão um grupo neutro para as negociações de paz”.

Coube ao gabinete para os assuntos humanitários das Nações Unidas actualizar nesta sexta-feira a tela do impacto dos conflitos e pedir financiamento para uma intervenção humanitária. As Nações Unidas dizem que são necessários cerca de 255 milhões de euros para garantir por três meses ajuda a 7,5 milhões de iemenitas afectados pelos conflitos. Parte deste apoio será para atacar o grave problema da falta de alimentos no país. Segundo as estimativas lançadas pela organização, há 12 milhões de pessoas no Iémen com falta de acesso a alimentos.  

Há agora 150 mil pessoas desalojadas no país, mais 50 mil do que o número estimado pelo gabinete de assuntos humanitários a 7 de Abril. As contas do início do mês apontavam para mais de 500 pessoas mortas desde o início dos raides aéreos da coligação liderada pela Arábia Saudita. Mas, nesta sexta-feira, as Nações Unidas dizem que já morreram, só em números confirmados pelos hospitais, pelo menos 767 pessoas até ao dia 13 de Abril. Em feridos, a contagem já supera as 2750 pessoas. O número real será muito superior.  

O número de mortos aumentou consideravelmente desde que tiveram início os raides aéreos e bombardeamentos da coligação de países islâmicos contra os rebeldes xiitas huthis. Algo que tem dificultado também a entrada de equipas de apoio humanitário no país – actualmente, 18 das 22 províncias são alvo de bombardeamentos.

Já as milícias xiitas huthis aliaram-se no terreno aos combatentes fiéis ao Presidente deposto Ali Abdullah Saleh e, juntos, controlam a maior parte do Iémen. O principal foco dos confrontos continua a ser a cidade portuária de Áden, no sul do país, onde se barricara Abd Mansour Hadi antes de se ter exilado na capital saudita.

A instabilidade no país abriu as portas à progressão dos islamistas da Al-Qaeda, que são quem têm mais beneficiado com o conflito no Iémen e aproveitado para alastrar o seu controlo na região leste do país.

Também nesta sexta-feira, um grupo de combatentes da Al-Qaeda tomou o controlo de um depósito de armas em Hadramaut, no leste. De acordo com fontes militares iemenitas, os combatentes da Al-Qaeda apoderaram-se de “dezenas de tanques, lançadores de rockets e armamento mais ligeiro”, como escreve a BBC.

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