Comités olímpicos desvalorizam ameaças aos atletas que vão a Sochi

Putin não olhou a gastos para garantir um evento bem-sucedido, mas as ameaças dos grupos insurgentes acumulam-se, deixando um clima de intranquilidade.

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Os Jogos de Sochi estão rodeados de fortes medidas de segurança Alexander Demianchu/Reuters

Pelo menos cinco comités olímpicos de países europeus receberam esta quarta-feira cartas com ameaças aos seus atletas que vão participar nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, no sul da Rússia. Os dirigentes dos vários organismos olímpicos consideraram que as cartas não apresentam verdadeiros riscos, mas a confiança demonstrada não esconde o nervosismo em torno da segurança do evento.

Na terça-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, conversou por telefone com o homólogo norte-americano, Barack Obama, e Washington prometeu dar “ajuda plena” para garantir uns jogos “seguros e protegidos”. O Pentágono afirmou que vai disponibilizar “meios aéreos e navais, incluindo dois navios da Marinha no Mar Negro” durante os Jogos de Inverno, de forma a responder a “todos os tipos de contingências.”

A polícia russa revelou na quarta-feira que abateu um homem suspeito de ataques em vários pontos do país e líder de um grupo radical do Dagestão e que está à procura de uma mulher que foi vista perto de Sochi.

Especialistas dos serviços secretos norte-americanos, citados pela Reuters, consideram que as elevadas medidas de segurança em torno dos Jogos de Inverno tornam improvável um ataque em Sochi. Advertem, contudo, que as ameaças podem vir a materializar-se noutros locais da Rússia.

Putin apostou alto no sucesso dos “seus” Jogos de Inverno, que encara como um legado, não olhando a rublos para o conseguir. O custo dos jogos já ultrapassou em 500% o orçamento inicial, fazendo da edição de 2014 os Jogos de Inverno mais caros de sempre. No total calcula-se que foram gastos 36 mil milhões de euros, à frente de Vancouver em 2010 (1,4 mil milhões) e de Turim em 2006 (3,4 mil milhões). Só no esquema de segurança montado para os jogos foram gastos cerca de 2,2 mil milhões de euros e vão estar envolvidos perto de 40 mil efectivos.

As garantias da organização estão longe de trazerem a tranquilidade desejada. Depois da difusão de um vídeo em que dois membros de um grupo islamita do Cáucaso do Norte ameaçam atacar Sochi, esta quarta-feira foi a vez dos próprios comités olímpicos receberem intimidações.

Os comités olímpicos da Hungria, Itália, Alemanha, Eslovénia e Eslováquia receberam cartas com ameaças às suas delegações. No entanto, os dirigentes desvalorizaram a situação, negando a veracidade da ameaça. O autor das cartas terá sido uma pessoa “que tem enviado todo o tipo de mensagens a vários membros das famílias olímpica”, revelou à Reuters o director das relações internacionais do Comité Olímpico Húngaro, Zsigmond Nagy. O Comité Olímpico Internacional fez eco das declarações do organismo húngaro, sublinhando que se trata “de uma mensagem casual de um membro do público.”

O clima de insegurança não passa ao lado dos atletas e há já quem receie em levar familiares a Sochi. A Folha de São Paulo dá conta de alguns dos 12 membros da delegação brasileira que pediram às famílias para não viajarem para a Rússia. "Eu não tenho medo porque na Vila Olímpica a segurança vai ser máxima. Mas para quem fica fora da vila não vai ser a mesma coisa, por isso o meu pai não vai à Rússia", afirmou o atleta de esqui alpino, Jhonatan Longhi.

A delegação portuguesa conta com apenas dois atletas, aos quais se juntam mais dois treinadores e dois dirigentes. “Estamos confiantes que as autoridades russas garantam a segurança” dos participantes, afirmou ao PÚBLICO o presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal, Paulo Farromba. A federação não vai tomar medidas de segurança adicionais, apesar de o dirigente reconhecer que há alguma “apreensão”.

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