Guerras de África continuam apesar de número recorde de capacetes azuis

No fim de Novembro, 70% dos capacetes azuis da ONU estavam em África, mas havia conflitos a agravarem-se.

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Soldado francês em patrulha na República Centro-Africana - a presença internacional não tem conseguido interromper o ciclo de violência Andreea Campeanu/Reuters

No caso da Republica Centro-Africana, França enviou um contingente de 1600 militares em apoio à missão da União Africana com mandato da ONU. Há um mês no país, a situação está hoje pior do que quando os primeiros militares franceses aterraram no aeroporto de Bangui.

Apesar da presença militar estrangeira, o número de vítimas e de deslocados não pára de aumentar. Há agora mais de um milhão de pessoas que fugiram de casa com medo da violência (há um mês eram 400 mil), e morreram mais de mil pessoas nos combates entre milícias cristãs e muçulmanas.

A situação está tão complicada que nem todos os dias é possível distribuir ajuda, dizem os Médicos Sem Fronteiras. “Tem havido combates fortes junto da clínica”, disse um porta-voz da organização em Genebra, Niklas Bergstrand. “É demasiado perigoso quando voam balas”, comentou.

Os ataques de vingança entre cristãos e muçulmanos não têm parado, e muitos são até levados a cabo em clínicas, dizem.

Tudo começou com o derrube do Presidente, François Bozizé, em Março, e a situação foi ficando cada vez mais violenta até um ponto em que os ataques de vingança sectária se tornaram a regra.

A presença no terreno para impedir ou tentar que os combates diminuam deveria ser apenas uma parte da solução, que deveria incluir iniciativas políticas e diplomáticas, defende John Pendergast, activista do grupo de defesa de direitos humanos Enough Project. Mas estas têm sido, na maioria dos conflitos em África, “ineficazes e demoradas”, critica. “Isso tem posto mais pressão nas missões para objectivos para os quais elas não estão preparadas.” Mesmo que sejam muitas - no final de Novembro, segundo o Washington Post, 70% dos 98.267 capacetes azuis da ONU estavam deslocados na África Subsariana.

Isto pode dizer-se no caso da República Centro-Africana ou também no caso do Sudão do Sul, onde um conflito entre o Presidente e um rival político que este afastou da vice-presidência desencadearam também uma cadeia de violência de ataques e retaliações entre duas tribos. Num país recente, nascido em 2011 após um conflito longo, há agora 200 mil deslocados por causa da violência.

Em ambos os países, as forças internacionais já presentes não conseguiram travar a violência nascente. “Há sempre a tentação de ouvir que se há uma força de manutenção de paz de 5000 ou 10.000 elementos pensarmos que eles podem fazer imenso bem, e podem”, disse Toby Lanzer, responsável da ONU no Sudão do Sul, ao Washington Post. “Mas o que não conseguem fazer é estabilizar um país inteiro que está numa erupção de violência.”

No Sudão do Sul, o aumento da força de 7500 para 14 mil aconteceu apenas em Dezembro, depois de uma onda de assassínios já de Janeiro se ter tornado num conflito nacional. Na República Centro-Africana, a ONU apenas autorizou a missão francesa e o aumento das tropas da União Africana para 4500 também em Dezembro.

Por outro lado, mesmo que não impeçam combates, esta presença tem efeitos. “Sem a intervenção física das forças de manutenção de paz da ONU ou da União Africana, estes conflitos poderiam ter escalado ainda mais”, defende E.J. Hogendoorn, vice-director para África do International Crisis Group.

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