Grécia: quando se aproxima o prazo para um acordo, aumentam os rumores

Financial Times diz que Governo se está a preparar para entrar em incumprimento após 24 de Abril, data de reunião-chave do Eurogrupo. Executivo grego nega.

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Yanis Varoufakis: o Govenro grego negou que estava a preparar-se para um cenário de incumprimento após 24 de Abril, a próxima reunião do Eurogrupo Eric Vidal/Reuters

À medida que se aproxima o prazo para a Grécia concluir um acordo com a zona euro, continua o jogo de informação e contra- -informação com responsáveis dos dois lados, a maioria sob anonimato, a fazerem passar algumas impressões à imprensa sobre a atmosfera e progresso das negociações, um possível resultado ou as consequências de um falhanço.

Esta segunda-feira, o diário britânico Financial Times publicou uma notícia na sua edição online dizendo que o Governo grego estava já a preparar-se para um cenário de incumprimento e que, se não chegasse a acordo com os seus parceiros do Eurogrupo na próxima reunião a 24 de Abril, iria entrar em incumprimento, não pagando a próxima prestação devida ao FMI, de 200 milhões de euros, que vence a 1 de Maio. “Se a Europa não libertar as verbas, não há alternativa ao incumprimento”, disse a fonte.

O Governo grego apressou-se a negar. “O dia 24 de Abril será só mais um dia e não ‘o fim do mundo’”, reagiu um responsável do executivo de Alexis Tsipras.

O próprio Financial Times admitia que a informação pudesse ser táctica negocial da fonte, mas comentava que ainda assim era uma indicação do estado dos cofres do país. 

A agência Reuters cita entretanto o vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis dizendo que a Grécia não está a agir suficientemente depressa na aplicação de reformas estruturais e que a janela de tempo para impedir que fique sem dinheiro está a fechar-se. “As conversações são muito complicadas”, declarou. “O tempo está a esgotar-se.”

Na quinta-feira, decorreu um encontro de um grupo de trabalho da zona euro em que os restantes países deram à Grécia um prazo de seis dias úteis para apresentar uma nova lista detalhada de reformas e dos seus efeitos em termos de Orçamento. Em causa está a entrega de 7,2 mil milhões de euros, a última tranche do empréstimo da troika, suspensa já no executivo anterior (e grande factor na antecipação das eleições para Janeiro).

Após este encontro, uma notícia no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung citando fontes anónimas dizia que responsáveis da zona euro estavam “desapontados” com o Governo grego e comentava que nas negociações o seu representante se comportara como “um taxista”, perguntando pelo dinheiro e sublinhando que sem ele o país ficará na bancarrota.

O artigo levou o Ministério das Finanças da Grécia a ripostar que “quando os leitores do FAZ lerem as minutas terão dificuldade em justificar o título e conteúdo deste artigo”. A nota do ministério comentava ainda: “Estes relatos destroem a negociação e a Europa.”

Do lado do Governo grego, uma fonte também dizia ao Bild, jornal alemão de grande circulação, que, caso não haja acordo, o executivo poderá marcar eleições. Se isso acontecer, sondagens dão um resultado muito favorável ao Syriza, o partido de esquerda radical do primeiro-ministro, Alexis Tsipras, com a oposição do partido Nova Democracia, que liderou o anterior Governo, a ficar muito reduzida. “Não temos nada a perder”, disse um ministro não identificado pelo tablóide. “O povo está connosco.”

Têm sido indicados vários prazos em que a Grécia ficaria sem dinheiro. Sem receber verbas desde Agosto e com vários compromissos a cumprir, desde o pagamento de prestações sociais aos empréstimos, a estimativa geral é que esta data esteja muito perto. Também têm sido indicados vários “prazos finais” para um acordo e este tem-se revelado difícil de conseguir. A data de 24 de Abril foi mencionada por responsáveis de todos os lados, incluindo o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, como sendo o prazo em que teria de haver um acordo.
 

<b>Corrigido o valor da última tranche do empréstimo, 7,2 mil milhões de euros</b>

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