Ex-director da Petrobras denuncia dezenas de políticos corruptos

A menos de um mês das eleições no Brasil, a delação de Paulo Roberto Costa, detido no âmbito da operação Lava Jato, é uma bomba de efeitos imprevisíveis.

Paulo Roberto Costa, ex-director da Petrobras, denunciou à justiça os nomes de dezenas de políticos de vários partidos – do PMDB e do Partido Progressista (PP) ao PT da presidente Dilma Rousseff – que teriam beneficiado de esquemas de corrupção envolvendo a petrolífera estatal brasileira.

Detido no âmbito da operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa decidiu colaborar com as autoridades em troca dos benefícios que a legislação brasileira concede aos delatores, prestando declarações que, segundo o jornal Folha de S. Paulo, comprometem nada menos do que 12 senadores, 49 deputados federais e um governador. Um deles seria mesmo o actual presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB.

Com a primeira volta das eleições presidenciais a disputar-se daqui a menos de um mês, a 5 de Outubro, e com as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), empatadas nas sondagens, as revelações de Paulo Roberto Costa podem ter efeitos imprevisíveis e estão a provocar grande nervosismo em ambas as campanhas.

Responsável directo, ao longo de uma década, por empreendimentos de vulto da Petrobras, incluindo a construção da gigantesca refinaria Abreu e Lima – os preços inicialmente previstos para a empreitada foram sendo aumentados mais de uma centena de vezes –, Paulo Roberto Costa terá explicado em detalhe aos procuradores federais como funcionava a estrutura de corrupção e lavagem de dinheiro entre políticos e empresas contratadas pela Petrobras. Os negócios eram intermediados por Alberto Youssef, traficante de divisas e especialista em lavagem de dinheiro, cujo nome já aparecera associado ao escândalo do "Mensalão" e que foi agora detido no âmbito da operação Lava Jato.

As declarações de Costa estão por enquanto sujeitas a sigilo legal, e os nomes dos políticos que acusou serão enviados ao Supremo Tribunal Federal. No entanto, os jornais brasileiros vão já avançando alguns pormenores. Muitos dos implicados seriam “parlamentares federais em campanha pela reeleição”, diz o Globo, acrescentando que outros ocupariam “cargos executivos no governo federal e em governos estaduais”. No dia de 5 de Outubro os brasileiros vão escolher não apenas o Presidente mas também o o vice-presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e vice-governadores e deputados estaduais

Ainda segundo este jornal, as declarações de Costa terão convencido os procuradores de que o mecanismo de cobrança e partilha de luvas em contratos da Petrobras funcionou para políticos e partidos aliados do governo como uma espécie de continuação do “Mensalão”. As investigações já atingiram parlamentares dos partidos que apoiam o governo e, admite o Globo, podem vir a salpicar também a campanha de Marina Silva. O PSB, lembra o jornal, opôs-se fortemente a que as obras da refinaria Abreu e Lima integrassem as duas recentes comissões parlamentares de inquérito à Petrobras.

O gigante petrolífero brasileiro está há meses mergulhado numa tormenta depois de ter sofrido perdas colossais por causa da compra, sobreavaliada e rodeada de fortes suspeitas de práticas ilícitas, de uma refinaria em Pasadena (Texas, EUA).

O intervencionismo do governo na gestão da companhia, que perdeu metade do seu valor bolsista em cinco anos, também é fortemente criticado pela oposição. Para conter a inflação, o governo de Dilma impôs à Petrobrás a venda de gasolina a um preço inferior ao do mercado, o que influencia a suas margens de lucro e capacidade de investimento.

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