Evo Morales dedica a Chávez e Fidel a terceira vitória nas presidenciais da Bolívia

O socialismo do boliviano levou progressos ao país onde já só um quinto da população vive abaixo do nível de pobreza.

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Se cumprir o mandato até ao fim, Morales será Presidente até 2020 David Mercado/REUTERS

Evo Morales foi reeleito para um terceiro mandato como Presidente da Bolívia e dedicou a vitória "aos presidentes anti-imperialismo" Fidel Castro, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela.

Num discurso de 15 minutos feito a partir de uma varanda do palácio presidencial — o "palácio queimado", assim chamado pelos inúmeros golpes de Estado no país —, Morales explicou que nas eleições de domingo se travou "uma batalha entre dois modelos: nacionalizar ou privatizar". Ganhou o "nacionalizar".

"Crescemos bastante, o que consolida o processo e a revolução democrática e cultural. O povo, unido e organizado, demonstrou que pode libertar-se democraticamente", disse o chefe de Estado de 54 anos que, se cumprir este terceiro mandato até ao fim, deixa a presidência da Bolívia em 2020 — anunciou que não se recanditará em 2019.

Segundo as estimativas, uma vez que não foram ainda divulgados os resultados definitivos, Morales terá obtido entre 59 e 61% dos votos.

Era uma vitória previsível, disseram os analistas políticos que explicaram que o ritmo da campanha eleitoral foi marcado pelo Presidente e foi monótona — Morales não aceitou debates com os opositores, apesar dos desafios insistentes de um deles, o empresário do cimento Samuel Doria Medina, da Unidade Democrática, que enfrentou pela terceira vez Evo Morales nas urnas.

Medina foi o segundo classificado, com entre 24 e 25% dos votos, mais dez pontos do que nas últimas presidenciais. Os outros candidatos ficaram muitos distantes: Tuto Quiroga 9%, Juan del Granado (antigo presidente da câmara de La Paz) e o ambientalista Fernando Vargas 3% cada.

Ao referir Castro e Chávez (o ex-Presidente venezuelano que morreu no ano passado), Evo Morales quis sublinhar a opção boliviana pelas reformas socialistas. Ao ser eleito em 2006, o primeiro chefe de Estado com sangue indígena da Bolívia iniciou um programa de nacionalizações dos sectores chave da economia (petróleo e, sobretudo, gás).

Com este passo, financiou uma série de programas sociais que retiraram uma parcela grande da população da pobreza — antes de Morales chegar à presidência, um terço dos dez milhões de bolivianos vivia abaixo do nível de pobreza. Agora são um quinto. Mudanças significativas, possíveis com o crescimento da economia na ordem dos 5% ao ano, mas que ainda deixam a Bolívia como um dos países mais pobres da América.

A maioria da população aderiu à abordagem socialista de Morales e à sua política de gastos muito controlados em alguns sectores. Investiu forte noutros, como a educação e os transportes, sobretudo com a construção de escolas e de estradas. Pelo que, no domingo, além dos eleitores terem dado a vitória a Morales, também deram ao seu partido, o Movimento para o Socialismo, a maioria de dois terços nas duas câmaras do Parlamento, assegurando ao Presidente a continuação das reformas socialistas mas com uma abordagem liberal em relação ao empresariado.
Os analistas dizem que, devido a este equilíbrio, Evo Morales conseguiu, pela primeira vez, vencer em Santa Cruz, o motor económico do país e que era o grande bastião da oposição.

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