Estados Unidos e Canadá vigiaram Ministério das Minas e Energia do Brasil

Documentos na posse de Edward Snowden revelam novos pormenores sobre a extensão das escutas que levaram a Presidente Dilma Rousseff a denunciar a "violação" do direito internacional e a cancelar uma visita a Washington no mês passado.

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As primeiras revelações sobre escutas dos EUA a instituições do Brasil crispou as relações entre Washington e Brasília Henry Romero/Reuters

Os serviços de espionagem dos Estados Unidos e do Canadá colaboraram para vigiar as comunicações do Ministério das Minas e Energia do Brasil. Novos documentos entregues pelo ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos Edward Snowden ao jornalista do Guardian Glenn Greenwald, mostram que os fluxos de e-mails e das ligações telefónicas do ministério, incluindo as comunicações com empresas dentro e fora do Brasil, foram espiados através de um programa informático chamado Olympia.

A reportagem na Rede Globo do jornalista Glenn Greenwald, a viver no Rio de Janeiro, mostra como a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) colaborou com o Centro de Segurança das Telecomunicações do Canadá para ficar com um registo das comunicações do ministério.

As principais informações sobre reservas minerais brasileiras são públicas, nota a rede de televisão brasileira Globo. Mas as informações estratégicas na perspectiva de contratos de exploração de petróleo, como por exemplo informação sobre os leilões para blocos de exploração e produção, são confidenciais. “As informações podem servir a empresas que concorram nesses leilões. Eu acho isso gravíssimo”, disse à Globo o ex-presidente da Eletrobrás, explicando que quem detém essas informações pode saber "antecipadamente o que vai acontecer nesses leilões". E lembrou que esses leilões movimentam "milhares de milhões".

Segundo a Globo, não há indicação de que o conteúdo das comunicações tenha sido espiado. As escutas serviram para manter registos de quem falou com quem, onde e como. “Lamento que tudo esteja a ser posto a este tipo de espionagem”, reagiu o ministro da pasta Edison Lobão. “É um facto grave que merece repúdio.”

Snowden expôs a extensão da espionagem dos Estados Unidos a outros países e está exilado na Rússia. Documentos por ele revelados já tinham mostrado como a NSA, dos Estados Unidos, espiou as comunicações da Presidente Dilma Rousseff e entrou nos servidores do sistema informático da empresa petrolífera nacional Petrobrás.

Na Assembleia-Geral da ONU, em Setembro, Dilma Rousseff condenou veemente estas acções e denunciou uma "violação" do direito internacional e da soberania do país, dizendo que “afrontavam” os princípios que regem as relações entre os Estados.

Neste domingo, a Presidente brasileira, que cancelou uma visita oficial a Washington em Setembro, voltou a comentar na sua conta no Twitter a espionagem feita pelos Estados Unidos ao Brasil. Afirmou ter recebido um livro do jornalista James Bamford sobre a NSA, publicado em 2008, The Shadow Factory: The Ultra-Secret NSA from 9/11 to the Eavesdropping on America, que mostra, segundo Dilma, que "a espionagem a cidadãos brasileiros (incluindo eu), companhias e ministérios ocorre há mais tempo" do que se pensava. Dilma anunciou ainda a votação pelo Congresso, nas próximas semanas, da proposta de lei para proteger as comunicações no Brasil e “a privacidade dos brasileiros”.

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