Erros de comunicação atribuíram à ETA atentados de 11 de Março

Foto
Hoje, os parlamentares terão acesso a 19 documentos relacionados com os atentados dos serviços secretos espanhóis Peter Dejong/AP

Erros de comunicação entre os responsáveis policiais estão na origem da atribuição à ETA dos atentados de 11 de Março em Madrid. Esta foi a principal conclusão da primeira semana de trabalhos da comissão parlamentar espanhola de investigação, e essa atribuição precipitada aos "etarras" refere-se, apenas, a uma primeira fase, que se esgotou cerca de 24 horas depois do massacre.

Os testemunhos dos peritos policiais em minas e armadilhas indiciam um erro de interpretação na cadeia do comando, não esclarecendo imediatamente qual o tipo de material utilizado no fabrico das bombas que explodiram nos quatro comboios. A palavra dinamite foi erradamente interpretada como dinamite da marca Titadyne, habitualmente utilizada pela ETA, quando naquele momento ainda não tinham sido realizadas as investigações. Os exames revelaram, finalmente, que se tratava de dinamite Goma-2 Eco, de fabrico espanhol. Essa confirmação ocorreu poucas horas após os atentados.

Outro aspecto investigado pelos deputados é o momento em que a denominada "pista islâmica", o envolvimento de terroristas árabes, foi admitida como linha de investigação consistente. De acordo com os agentes, na manhã de sexta-feira, 12 de Março, aos serviços de informação da polícia espanhola, concretamente ao Serviço de Assuntos Árabes e Islâmicos, foi encaminhada a investigação. Do mesmo modo, na manhã de sábado, 13, o Governo de José Maria Aznar terá sido informado da iminente detenção de cidadãos marroquinos no bairro madrileno de Lavapiés. Contudo, numa conferência de imprensa ao princípio da tarde daquele dia, o ministro do Interior, Angel Acebes, foi peremptório: "Nenhum responsável das forças de segurança me disse que tenha sido a Al-Qaeda".

Estas versões contraditórias serão apuradas nas próximas audiências. Hoje, os parlamentares têm acesso a 19 documentos relacionados com os atentados com a chancela do Centro Nacional de Informação, os serviços secretos espanhóis. Apesar do Governo não ter declassificado esta documentação permitiu que os deputados a consultassem numa sessão reservada.

Os trabalhos da comissão parlamentar também revelaram aspectos nebulosos da actuação dos partidos: o vice-presidente socialista da comissão manteve um contacto prévio com um dos declarantes, o porteiro de um prédio do município de Alcalá de Henares que descobriu a furgoneta utilizada para o transporte das mochilas bomba. Do mesmo modo, o novo responsável de Informação da polícia, Telesforo Rubio, é acusado pelos conservadores de ter estado na sede do PSOE em 28 de Junho, dias antes do ínicio dos trabalhos da comissão. Por seu lado, os socialistas acusam o antigo sub-director de operações da polícia, Diaz Pintado, de ter "ajustado" o seu depoimento com o ex-director-geral, Agustin Díaz de Mera, actual euro-deputado eleito nas listas do Partido Popular.

Por fim, Rafá Zouhier, confidente da Guarda Civil detido por alegada colaboração na obtenção dos explosivos utilizados nos atentados de 11 de Março, acusou agentes daquele corpo de o terem pressionado a não declarar perante a comissão.

Ontem, a Fiscalia do Estado, equivalente à Procuradoria-Geral da República em Portugal, anunciou a abertura de uma investigação para apurar a veracidade da denúncia de Zouhier. Ainda ontem, em Leganes, a polícia deteve Hamadi Afandi, um cidadão espanhol de origem marroquina, por alegado envolvimento com a matança de Atocha.

Sugerir correcção
Comentar