Erro humano pode não ser a única explicação para choque de comboios em Itália

Chefes das estações de Andria e Corato foram suspensos e considerados suspeitos. Inquérito também vai apurar por que não foram lançadas obras para construção de segunda linha, que já estava financiada.

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Prosseguem as investigações para apurar as causas do choque frontal de dois comboios na região da Puglia REUTERS/Alessandro Garofalo

O choque frontal de dois comboios, que circulavam em sentidos opostos numa via de sentido único na região da Apúlia, em Itália, foi resultado de um erro humano: a colisão aconteceu porque o sistema de notificação telefónica entre as estações de Andria e Corato, que alerta para a ocupação da linha por uma composição, não funcionou devidamente, explicaram esta quinta-feira os procuradores que investigam o acidente, que fez 23 mortos e 52 feridos.

Os dois chefes de estação, e uma terceira pessoa cuja identidade não foi revelada, foram já considerados suspeitos pelos magistrados e vão responder no inquérito sobre as causas do acidente. No entanto, não foram por enquanto acusados de nenhum crime – esse passo, que pode ou não vir a acontecer, só será dado no fim das investigações, depois de ser feita a reconstituição total dos acontecimentos.

A inexistência de um sistema automático de sinalização faz com que a passagem na única linha que liga as duas estações seja gerida por contacto telefónico. “Fui eu que deixei o comboio passar, fui eu que dei o sinal”, admitiu o chefe da estação ferroviária de Andria, Vito Piccarreta, citado pelo jornal La Stampa. Apesar de reconhecer ter desempenhado um papel na tragédia, o funcionário dos caminhos-de-ferro rejeitou a responsabilidade pela colisão, lembrando que uma série de atrasos tinha lançado a confusão sobre a ordem de passagem dos comboios. “A culpa não é só minha”, disse Piccarreta, que não sabia que uma terceira composição tinha partido da estação de Corato.

“Falar apenas em erro humano é uma simplificação”, notou o procurador Francesco Giannella, que anunciou a condução de um inquérito paralelo, para determinar as razões por que não avançou a construção de uma segunda linha férrea no trecho em causa, que já tinha obtido financiamento nacional e comunitário. “Não podemos só olhar para os elementos mais óbvios para obter as explicações mais simples”, disse Giannella, confirmando que as autoridades fiscais estão a colaborar no inquérito.

Em Roma, o responsável pela agência italiana de combate à corrupção, Raffaele Cantone, fez uma referência ao desastre ferroviário durante uma apresentação no Senado. “Sabemos que teve origem num erro humano, mas provavelmente também foi uma consequência terrível deste problema endémico no nosso país que nos impede de ter uma infra-estrutura adequada”, lembrou, referindo-se à corrupção que envolve os grandes projectos de construção.

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