Dos protestos no Brasil ao culto de Hugo Chávez

Balanço de 2013 sobre a América.

A boa notícia O Brasil acordou


O que começou como uma pequena acção localizada em reacção ao anunciado aumento das tarifas do transporte público de São Paulo, acabou por crescer em protesto contra a repressão violenta de manifestantes pelas forças policiais e finalmente transformou-se numa vaga nacional de clamor pela melhoria dos serviços do Estado e contra a corrupção e o enquistamento do sistema político do país. O Brasil acordou do seu sonho de emergente e saiu à rua no Verão de 2013 para reclamar da realidade do ensino, da saúde, dos transportes e das infra-estruturas. E até a Presidente Dilma Rousseff, que viu a sua popularidade cair para metade na sequência das manifestações, saudou o renovado interesse dos brasileiros pela cidadania e elogiou os slogans que exigiam mais qualidade para a democracia do país.

A má notícia Nicolás Maduro, o herdeiro de Chávez


Com autêntico fervor religioso, Nicolás Maduro, o Presidente da Venezuela eleito após a morte de Hugo Chávez, continuou a alimentar o culto da personalidade do antigo líder (durante a campanha eleitoral, em Abril de 2013, confessou ser visitado por aparições de Chávez sob a forma de um passarinho) e prosseguiu as políticas “socialistas bolivarianas” e nacionalistas do seu mentor. Apesar de ter sido pessoalmente designado por Chávez, Maduro venceu as eleições por uma magra margem de 1,5 % de votos – a oposição, liderada pelo governador de Miranda Henrique Capriles, recusou reconhecer os resultados oficiais. Com o país mergulhado numa profunda crise económica, e a braços com uma das mais elevadas taxas de criminalidade da América Latina, o Presidente iniciou um ambicioso programa com a polícia e o exército intitulado “Pátria Segura”; e abriu uma “guerra económica” contra os agiotas e especuladores, através da nacionalização de lojas e do estabelecimento de preços fixos.

A figura Nem Barack ajudou Obama


Os tempos da “mudança” e do “sim, nós podemos” já tinham ficado para trás no imaginário de muitos americanos, mas poucos esperavam um ano tão difícil como o que aguardava Barack Obama em Novembro de 2012. Mais por causa dos problemas internos do que pelas decisões de política externa, o índice de popularidade do Presidente dos EUA está hoje em mínimos históricos. Mais do que a simpatia, a maioria dos eleitores questiona-lhe a honestidade. A gota que fez transbordar o copo dos mais conservadores e que chegou a agitar as águas de muitos dos seus simpatizantes foi a forma como lidou com a reforma do sistema de saúde. A lei já era suficientemente polémica, mas Obama armadilhou o seu próprio caminho: fez uma promessa que não podia cumprir. A frase foi repetida dezenas de vezes pelo Presidente dos EUA e ouvida vezes sem conta pelos cidadãos: “Se gostar do seu plano de saúde, vai poder mantê-lo.” Afinal, a regra tinha muitas excepções, e a garantia de Obama virou-se contra ele. Foram muitas as pedras no caminho: o analista informático Edward Snowden abriu-lhe o presente envenenado da espionagem de cidadãos em larga escala; a “linha vermelha” traçada na Síria foi adquirindo cores diferentes com o envolvimento da Rússia; e acabou por sair vencedor do braço-de-ferro com o Partido Republicano na crise que levou à paralisação do governo, em Outubro. Obama argumenta que alcançou várias vitórias: sim, o processo de inscrição no Obamacare foi um desastre, mas há hoje mais americanos com acesso a seguros de saúde com uma cobertura condizente com um país desenvolvido; sim, o reforço do controlo das armas a nível federal esbarrou no Congresso, mas há hoje mais estados com leis mais restritivas; e sim, os EUA não cumpriram a ameaça de ataque contra o governo de Bashar al-Assad, mas a Síria está a ficar sem armamento químico. É tudo uma questão de perspectiva, mas nem o antigo responsável pela comunicação da Casa Branca e conselheiro de Obama desde 2004, Robert Gibbs, consegue passar ao lado da sentença: “Não há dúvidas. Este foi o pior ano da sua presidência.”


A seguir em 2014
Destaques de agenda das Américas

25 de Maio Eleições presidenciais na Colômbia
A reeleição do Presidente Juan Manuel Santos para um segundo mandato é dada como certa pelos comentadores políticos, que no entanto avisam que da votação na Colômbia poderá resultar um quadro completamente diferente do actual. O principal motivo de interesse tem a ver com a entrada em cena do novo partido político Centro Democrático, fundado pelo ex-Presidente Álvaro Uribe, que cedeu a candidatura presidencial a Oscar Ivan Zuluaga mas será candidato ao Senado. A sua esperança é bloquear o actual processo negocial do Governo com o grupo guerrilheiro FARC.

5 de Outubro Eleições legislativas e primeira volta da votação para a presidência do Brasil
A incógnita na votação presidencial tem a ver com a margem que a Presidente Dilma Rousseff, candidata a um segundo mandato, vai obter: será suficiente para ser eleita com a maioria dos votos, ou terá de disputar uma segunda volta em Novembro? A oposição tucana, liderada por Aécio Neves, não conseguiu ainda encontrar um slogan galvanizador para ameaçar o favoritismo eleitoral da candidata do PT; e a entrada da ecologista Marina Silva na corrida pela vice-presidência poderá não ser suficiente para dividir os votos.

4 de Novembro Eleições no Congresso dos Estados Unidos
A votação intercalar para a recomposição da Câmara de Representantes e de um terço do Senado é quase sempre um referendo às políticas do Presidente: uma vitória do Partido Democrata permitirá a Barack Obama ultrapassar a oposição e avançar a sua agenda legislativa até se retirar da Casa Branca, em 2016. Os democratas querem reconquistar a câmara baixa, actualmente nas mãos dos republicanos: precisa de recuperar 18 assentos, o que não é uma tarefa impossível. Mas nos últimos cem anos nenhum Presidente conseguiu reverter a balança da Câmara de Representantes para o seu partido no segundo mandato.
 

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