Coreia do Norte ameaça realizar novo ensaio nuclear em resposta a resolução da ONU

Instituto americano divulga imagens de satélite que sugerem reinício da laboração numa instalação nuclear.

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A Coreia do Norte realizou já três ensaios nucleares, em 2006, 2009 e 2013 Kim Hong-Ji/Reuters

A Coreia do Norte ameaça realizar um novo ensaio nuclear em resposta à resolução aprovada terça-feira nas Nações Unidas pedindo que os líderes de Pyongyang sejam investigados por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional.

A resolução, que recebeu o apoio de 111 países, tem por base o extenso relatório apresentado em Fevereiro por uma comissão de inquérito da ONU, no qual se concluiu que as violações dos direitos humanos na Coreia do Norte atingem “uma escala sem igual no mundo contemporâneo”, “excedendo todas as outras em duração, intensidade e horror”. Nos campos de trabalho forçado vivem entre 120 a 200 mil prisioneiros, alguns já nascidos em cativeiro, sujeitos “à fome, trabalhos forçados, execuções, tortura, violação, negação dos direitos reprodutivos através de castigos, abortos forçados e infanticídio”, lê-se no documento, que tem por base audições a dezenas de dissidentes.

A resolução segue para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, que se reúne em plenário em Dezembro, e só depois para o Conselho de Segurança, onde o envio do processo para o TPI pode ser vetado pela Rússia e China, esta última com fortes ligações a Pyongyang.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-coreano responde que o relatório não passa de uma “fraude”, baseada em “testemunhos inventados”, e acusa os Estados Unidos de usarem a ONU para humilhar o país perante o mundo. “Esta agressão americana não nos permite refrear por muito mais tempo a realização de um ensaio nuclear”, lê-se num comunicado divulgado nesta quinta-feira em Pyongyang e que faz eco da ameaça que tinha já sido deixada pelo embaixador norte-coreano na ONU antes da votação de terça-feira.

Apesar de não o confirmar, o regime possui armas nucleares e por três vezes, em 2006, 2009 e 2013, realizou ensaios subterrâneos que lhe valeram outras tantas rondas de sanções aplicadas pela ONU. Reagindo à ameaça, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano avisou que “é lamentável que [a Coreia] ameace com este tipo de acções em resposta à atenção legítima da comunidade internacional à situação dos direitos humanos” no país.

A ameaça surgiu na mesma altura em que o Instituto EUA-Coreia da Universidade John Hopkins, em Washington, admitiu a possibilidade de Pyongyang ter reiniciado a actividade na unidade que reprocessa o combustível usado na central nuclear de águas pesadas de Yongbyong, podendo daí extrair plutónio na concentração necessária ao fabrico de bombas atómicas.

O departamento divulgou imagens de satélite que mostram vapor de água a elevar-se das torres de refrigeração da fábrica e grande quantidade de material armazenado fora da unidade, o que dá a entender que estão em curso operações de manutenção ou testes para reiniciar a laboração no local.

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