Cidade mexicana onde desapareceram 43 estudantes colocada sob controlo federal

Identificação dos corpos encontrados em duas valas comuns pode demorar entre 15 dias e dois meses.

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No total, 22 polícias de Iguala já foram presos, acusados de trabalharem para o crime organizado Pedro PARDO/AFP

As forças federais mexicanas, exército e polícia, tomaram o controlo da cidade de Iguala (estado de Guerrero, no Sul), de onde desaparecerem 43 estudantes que foram atacados por agentes da polícia militar e por narcotraficantes.

O exército procedeu ao desarmamento da polícia municipal no quadro das directivas anunciadas na segunda-feira pelo Presidente Enrique Peña Nieto, com o objectivo de tomarem o controlo da cidade e realizarem uma investigação sobre os factos.

Os corpos dos estudantes desaparecidos poderão encontrar-se em valas comuns que entretanto foram descobertas durante o fim-de-semana. Mas para já nada está confirmado, nem mesmo depois da confissão de dois sicários, que alegam ter matado 17 dos jovens estudantes.

Os polícias municipais que ainda estavam ao serviço foram transferidos para uma base militar no centro do país, enquanto as suas armas são examinadas para verificar se serviram para cometer delitos.

O novo corpo especial de polícia, apoiado pelo exército, ficou encarregado das “tarefas de segurança pública”, nesta localidade de 140 mil habitantes, anunciou o comissário Monte Alejandro Rubido.

O Presidente Peña Nieto garantiu aos mexicanos que os responsáveis pelo rapto dos estudantes, desaparecidos depois de participarem num protesto, serão punidos. “Num Estado de direito não há lugar para a impunidade”, disse numa mensagem ao país. Estes factos são “revoltantes, dolorosos e inaceitáveis”, acrescentou Peña Nieto. “Lamento tudo, em particular a violência que foi usada e o facto de se tratar de jovens estudantes.”

No total, 22 polícias de Iguala já foram presos, acusados de trabalhar para um grupo do crime organizado, Guerreros Unidos, depois de terem participado num tiroteio a 26 de Setembro contra autocarros que transportavam estudantes.

Os estudantes, alunos da escola normal de Ayotzinapa, conhecida pela sua veia contestatária, tinham-se deslocado até Iguala, a cem quilómetros de distância, para se manifestarem contra a discriminação salarial dos professores rurais. No final dos protestos entraram em três autocarros públicos para regressar a casa.

Polícias e homens armados não identificados abriram fogo contra os autocarros, fazendo três mortos e mais de uma dezena de feridos. Outros três estudantes foram mortos a tiro durante a noite.

Na altura, testemunhas viram dezenas de estudantes a serem levados em viaturas da polícia. Desde então, iniciou-se uma operação de busca dos jovens estudantes que levou à descoberta de duas valas comuns nos últimos dias.

Dois homens que dizem ser membros dos Guerreros Unidos terão confessado às autoridades ter matado 17 dos estudantes desparecidos, que depois foram incinerados numa vala comum perto de Iguala. Uma segunda vala comum foi encontrada noutro local com 28 corpos lá dentro.

O trabalho de identificação dos cadáveres pode durar entre 15 dias e dois meses. Até lá, muitos familiares dos jovens estudantes continuam a acreditar que eles ainda estão vivos. A participação do Governo federal na investigação “não é um favor, é uma obrigação de nos devolver os nossos filhos com vida o mais depressa possível”, disse a mãe de um dos desparecidos.

Se se confirmar que os cadáveres encontrados são os dos estudantes, trata-se de um dos piores massacres no México depois do início da guerra lançada em 2006 contra os narcotraficantes, que já fez mais de 80 mil mortos.

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