Perfil de Christian Wulff: um conservador moderno e o mais jovem Presidente

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Christian Wulff e a sua mulher, Bettina, no momento em que foi anunciada a demissão Foto: John MacDougall/AFP

O mais jovem Presidente da Alemanha, Christian Wulff, que se demitiu na manhã desta sexta-feira, após uma sucessão de suspeitas de casos de corrupção, mantinha a reputação de conservador moderno e sem história até que uma série de escândalos o propulsionaram para o centro das atenções mediática.

Elegante, de sorriso fácil, Wulff, de 52 anos, foi eleito Presidente com dificuldade a 30 de Junho de 2010, à terceira e última volta do sufrágio, em que a maioria simples era suficiente para escolher o chefe de Estado. Foi uma humilhação para a chanceler Angela Merkel que o apresentou a votos, e cuja coligação governamental lhe oferecia teoricamente a maioria na Assembleia para garantir a eleição de Wulff sem percalços.

Ao tornar-se Presidente – função essencialmente honorífica na Alemanha, mas que contém grande prestígio e pode influenciar a opinião pública – Wulff ocupava pela primeira vez um cargo político de abrangência nacional, não tendo antes sido sequer ministro federal.

Antes do eclodir dos escândalos, este Presidente, considerado “muito brando” por alguns críticos, tinha uma excelente relação com os media, prestando-se com visível prazer a dar entrevistas e tirar fotografias com a segunda, loura e jovem mulher Bettina, mãe do filho pequeno de ambos. Ela era a primeira mulher de um Presidente a ter uma tatuagem (uma chama ardente, no cimo do braço direito), o que Wulff achava “ter pinta”.

Os laços próximos de Wulff com empresários, forjados na altura em que dirigiu o governo regional da Baixa Saxónia (norte da Alemanha), entre 2003 e 2010, acabaram por ser-lhe fatais. Desde meados de Dezembro, Wulff tem estado sob fogo cerrado de críticas dos media alemães, que o acusam de se ter aproveitado dos cargos desempenhados para obter uma série de vantagens financeiras e, depois, de ter tentado abafar estes casos. O Presidente deixou mesmo uma mensagem de voz no telefone do director do poderoso tablóide Bild a ameaçá-lo, a qual veio a ser largamente divulgada.

Poucos meses antes da sua chegada à chefia de Estado, Wulff, um católico praticante, provocou a ira entre os conservadores ao afirmar que o Islão também fazia parte da Alemanha, nas celebrações do 20º aniversário da reunificação do país, a 3 de Outubro de 2010.

Já no passado, Wulff tinha dado provas da sua abertura aos alemães oriundos da imigração, tendo nomeado um ministro de ascendência turca para o seu governo na Baixa Saxónia, algo então inédito na Alemanha.

Numa frente completamente diferente, surpreendeu tudo e todos com as críticas feitas, em Agosto passado, a compra das dívidas dos países em dificuldades pelo Banco Central Europeu, quando a crise do euro estava já ao rubro. Na Alemanha, país profundamente convicto da independência dos bancos centrais, uma tal intrusão do Presidente nos assuntos monetários foi vista como inesperada.

Pouco antes da visita do Papa Bento XVI ao país, em Setembro, Wulff, que se divorciara em 2007 e casara pela segunda vez no ano seguinte, afirmou que a Igreja católica deveria mostrar maior compreensão em relação às pessoas divorciadas. O divórcio da primeira mulher, Christiane, com quem tem uma filha, então já maior de idade, fez ranger os dentes entre os conservadores.

Nascido a 19 de Junho de 1959 em Osnabruck (noroeste da Alemanha), teve que assumir grandes responsabilidades ainda muito novo: aos 14 anos, após a partida do padrasto – os pais tinham-se divorciado quando ele tinha dois anos –, ficou a seu cargo a tarefa de cuidar da mãe, doente de esclerose, e ajudar a criara a irmã mais nova.

Militante da União Democrata Cristã desde os 20 anos, actualmente presidida por Angela Merkel, Wulff tinha apenas 34 anos quando desafiou nas eleições regionais da Baixa Saxónia Gerhard Schröder, então o homem forte do Partido Social Democrata (SPD)e que viria a tornar-se chanceler.

Em 2003, Wulff conseguiu finalmente conquistar aquele governo regional, tirando-o das mãos da esquerda então liderada por Sigmar Gabriel (actual presidente do SPD), e foi reeleito em 2008.

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