Brasileiros querem ser um milhão na rua a protestar

"Brasil acorda!" é a palavra de ordem. Agência de espionagem monitoriza a Internet. Pelé mudou de opinião, diz que está "100% com os protestos"

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Protestos em Fortaleza Davi Pinheiro/AFP

Pôr um milhão de pessoas na rua, em pelo menos 80 cidades brasileiras é o objectivo traçado para a noite desta quinta-feira pelo movimento de protesto que começou por ser contra o aumento do preço dos transportes mas se transformou numa onda de contestação social que foi bem para lá das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro e chegou a cidades de menor dimensão.

O movimento que apanhou os políticos desprevenidos chegou ao décimo dia sem diminuir, mesmo que vários municípios tenham recuado quanto ao aumento do preço dos bilhetes de autocarro. Só em São Paulo, até perto da hora do almoço (hora local), 300 mil pessoas tinham-se comprometido no Facebook a participar na manifestação, relata a AFP. No Rio de Janeiro, 250 mil tinham dito que iam, e em Brasília eram 50 mil os que prometiam comparecer, sob a palavra de ordem “Brasil acorda!”. Esta é também uma das várias hashtags que correm nas redes sociais, e que as pessoas usam como moeda de troca para trocar informações, notícias, mensagens.

Mas após a manifestação de hoje, o Movimento Passe Livre - que defende que o transporte urbano devia ser gratuito e está na origem dos protestos - vai discutir se vai continuar a organizar novas manifestações, noticia o jornal O Globo.
Tudo costuma começar ao fim do dia, depois da maior parte dos trabalhadores saírem dos empregos. Mas haverá também uma manifestação de apoio a Dilma Rousseff em São Paulo — a concentração está marcada para a Avenida Angélica, a poucos metros de onde será a concentração do protesto, marcado para as 17h (locais, mais quatro em Lisboa) na Praça do Ciclista, adianta o jornal O Estado de São Paulo.

Com receio de que houvesse novos episódios de violência — apesar de em muitos casos esta ter sido causada por pessoas não relacionadas com os protestos —, as autoridades tomaram ontem precauções para proteger zonas patrimoniais. Bancos e estações do metrô no centro do Rio de Janeiro protegem-se de eventuais ataques. Muitas lojas vão fechar mais cedo, também com receio de distúrbios. A segurança em torno do estádio do Maracanã também foi reforçada.

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) montou “à pressa” uma operação para monitorizar o que se passa na Internet noticiavam ontem vários media brasileiros. “O Governo destacou oficiais de inteligência para acompanhar as movimentações dos manifestantes, por meio do Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp. A agência avalia que as tradicionais pastas do governo que tratavam de articulação com a sociedade civil perderam a interlocução com as lideranças sociais”, escreveu o Estado de São Paulo.

Pelé mudou de opinião
Pelé pediu aos brasileiros para terminarem com os protestos nas ruas e se concentrarem no apoio à selecção durante a Taça das Confederações e no sucesso do Mundial 2014, e o seu apelo, numa gravação vídeo da Globo, não foi bem acolhida. O ex-internacional Romário, agora político, mandou literalmente “Pelé calar a boca.” Agora, Pelé voltou atrás, e desta vez usou o Facebook para se explicar: "Por favor, não me entendam mal. Eu sou 100% a favor deste movimento pela justiça no Brasil! Eu somente peço a todos que apoiem a nossa Seleção Brasileira e não descontem as frustrações neles (vaiando e etc)".

A mensagem, em inglês e português, e foi enviada para os 1,7 milhões de seguidores do Rei do Futebol, explica o Jornal do Brasil.

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