Mau tempo é cada vez mais o suspeito de ter feito cair o avião da AirAsia

Vários países estão envolvidos na buscas, mas ainda não há sinais da aeronave. Mas acidente lembra o de 2009, com um voo da Air France para o Rio de Janeiro, que também enfrentou uma tempestade.

Foto
O avião da AirAsia terá caído no fundo do Mar de Java Darren Whiteside / Reuters

Destroços a flutuar, manchas de óleo à superfície – tudo se revelou serem falsas pistas. Após dois dias de buscas, não há pistas que revelem onde terá caído o avião da AirAsia que desapareceu dos radares domingo, quando sobrevoava o Mar de Java. A única certeza é que estará no fundo do mar, e que é muito pouco provável que alguma das 162 pessoas que seguiam a bordo tenha sobrevivido. Quanto à origem do acidente, avolumam-se as suspeitas de que tenha havido uma resposta errada a uma tempestade.

O voo QZ8501 descolou da cidade de Surabaya, na Indonésia, e dirigia-se para Singapura. Mas passados 49 minutos do que devia ser uma viagem de duas horas, pediu autorização ao controlo de tráfego aéreo indonésio para virar à esquerda e subir de altitude, dos 9800 metros para 11.600, porque estava a entrar numa zona de trovoada violenta. Foi-lhe permitido virar à esquerda mas não subir – porque havia outro avião a voar nessa altitude, explicou ao jornal indonésio Kompas Djoko Murjatmodjo, um responsável pelo sector da aviação do Ministério dos Transportes.

O responsável indonésio sugere que o piloto poderá ter feito o avião elevar-se, apesar da indicação em contrário do tráfego aéreo, diz o jornal. Imagens de radar que circulam as redes sociais, alegadamente retiradas de ecrãs de controlo do tráfego, sugerem que o avião começou a ganhar de altitude, mas a uma velocidade que pode ter sido demasiado reduzida para a manter, diz a revista The Economist.

Isto já foi um factor central na queda do Airbus 330 da Air France que ligava Paris ao Rio de Janeiro em Junho de 2009: ao atravessarem uma zona de intensas tempestades, acumulou-se grande quantidade de partículas de gelo nos indicadores de velocidade – os chamados tubos pitot. Isto fez com que se avariassem e dessem leituras erradas à tripulação, que não percebeu que o avião tinha perdido a capacidade de se sustentar no ar, recorda The Wall Street Journal.

O A320-200 da AirAsia estava a voar a cerca de 100 nós (185 km/hora) abaixo da velocidade de cruzeiro geral, o que seria dentro dos valores de segurança para manter o voo, disse Hugh Ritchie, director da empresa de consultoria Aviation Consultants Internacional, de Singapura provavelmente um indício de que estava a ganhar altitude, teria partes congeladas ou tinha desacelerado para tentar controlar a turbulência, disse ainda Richie ao New York Times.

“A minha opinião pessoal é que não se devia tentar atravessar uma tempestade destas. Deve ter havido uma combinação de uma meteorologia muito agressiva com erro do piloto relativamente ao percurso do voo”, afirmou Ritchie.

A tempestade que o voo da AirAsia enfrentou não era nenhuma brincadeira. A Agência Indonésia de Meteorologia, Climatologia e Geofísica confirmou que o céu sobre a ilha Belitung – a última posição conhecida do voo QZ8501 – estava coberto por nuvens do tipo cumulonimbus, associadas a tempestades com forte precipitação.

“Se um piloto persistir em atravessar estas nuvens, o corpo do avião pode ficar danificado. O melhor a fazer nesta situação é alterar o percurso. O piloto fez o acertado ao pedir autorização para mudar o trajecto, ao ver as nuvens no radar, mas não sabemos o que aconteceu depois ter feito esse pedido”, disse ao jornal The Jakarta Post o especialista em aviação Chappy Hakim.

Outros especialistas sublinham que pilotos com grande experiência sabem lidar com nuvens cumulonimbus. O piloto principal, Iriyanto (como muitos indonésios, tem apenas um nome) tinha 20.537 horas de voo, das quais 6053 a trabalhar na AirAsia. “Com toda esta experiência, acredito que poderia lidar com uma situação tão difícil, mas precisamos de ter um conhecimento amplo da situação para compreender o acidente”, comentou Hanna Simatupang, ex-investigadora da Comissão Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia.

Com o avião “no fundo do mar”, como alvitrou Bambang Sulistyo, o responsável pelos serviços de emergência indonésios, é difícil comprovar todas estas teorias. Mas as autoridades de Jakarta iniciaram uma vistoria às operações da AirAsia Indonesia – a unidade local da companhia malaia, que explorava o avião que caiu.

“Esperamos encontrar a localização do avião o mais rapidamente possível”, disse o vice-presidente da da Indonésia, Joko Muryo Atmodjo. “Até agora não descobrirmos como é que o avião caiu ou que tipo de emergência ocorreu”, reconheceu em conferência de imprensa.
 

   


Sugerir correcção
Ler 4 comentários