Ataque a fábrica de leite mata 37 civis no Iémen

Liderança iemenita refugiada na Arábia Saudita pede mais uma vez o envio de tropas para o terreno no conflito contra os huthis xiitas

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Combatente huthi na cidade de Saada, no Noroeste Naiyf Rahma/Reuters

As organizações humanitárias avisaram que o risco existia e membros da coligação árabe já tinham feito o aviso: os bombardeamentos contra as posições dos rebeldes xiitas huthis no Iémen podem provocar "danos colaterais". Nesta quarta-feira, um bombardeamento cuja responsabilidade ainda não foi atribuída matou 37 pessoas e feriu 80 no Leste do Iémen.

O alvo foi uma unidade de produção de leite na província de Hodeida e há relatos diferentes sobre a origem dos projécteis. Algumas testemunhas citadas pela AFP disseram que foram os rebeldes huthis, que têm uma guarnição próxima da fábrica de leite, que dispararam obuses. Outras disseram que a instalação foi atingida pelas bombas lançadas pelos aviões da coligação árabe liderada pela Arábia Saudita. Uma fonte militar em Hodeida, que a agência francesa diz não estar ligada a qualquer dos lados do conflito, disse que a tese mais provável é a do ataque áereo.

Há alguns dias, um ataque aéreo matou pelo menos 45 pessoas e feriu 65 num campo no Noroeste do Iémen que alberga refugiados dos vários conflitos que opuseram os huthis ao Governo central desde 2009, mas também refugiados do Leste de África.

Na fábrica de leite morreram sobretudo trabalhadores, disseram as fontes locais contactadas pelas agências noticiosas internacionais. A maior parte foi vítima do rebentamento de um reservatório de gás atingido por uma bomba. Uma parte significativa da fábrica ficou destruída.

Este ataque de origem ainda desconhecida ocorreu no sétimo dia da campanha aérea contra os huthis e num momento em que a coligação intensifica os raides a sul, na importante cidade portuária de Áden. Aqui, além de aviões, estão a ser usados nos bombardeamentos navios de guerra fundeados ao largo da cidade. O quartel-general da 5.ª Brigada, leal ao ex-Presidente Ali Abdallah Saleh, deposto em 2011 por pressão da Arábia Saudita e aliado dos huthis, foi atingido no Norte de Áden.

Os países árabes liderados por Riad dizem que a tribo huthi, que no ano passado começou os seus avanços para sul (tomaram a capital, Sanaa, em Setembro), está a ser manipulada pelo Irão xiita, que pretende controlar o Iémen e alargar a sua influência na região – o Presidente sunita, Abd Mansour Hadi, está refugiado em Riad.

Nesta quarta-feira, o chefe da diplomacia iemenita, Ryad Yassine, também refugiado na capital saudita, fez mais uma vez um apelo à coligação árabe para que envie tropas para o terreno, considerando que os bombardeamentos aéreos não bastam para recuperar os vastos territórios que os huthis controlam no país: "Sim, é o que peço, pois penso que os raides aéreos são insuficientes".

Nas suas declarações Yassine usou os alertas das organizações humanitárias sobre os riscos que os civis correm com os bombardeamentos aéreos. Disse que se "perderiam menos vidas civis" se estivessem tropas no terreno e que estas também são necessárias para criar corredores seguros para fazer entrar ajuda humanitária no Iémen.

O porta-voz saudita da coligação, Ahmed Assiri, respondeu-lhe: "Até ao momento não foi necessário avançar com esse tipo de acção". Mas disse que se for necessário, a decisão será tomada.


Em Áden, as forças fiéis a Hadi – conhecidas por Comités Populares – fizeram alguns progressos no terreno e prenderam 26 huthis.

Na noite de terça para quarta-feira a coligação aérea atingiu também campos dos Guardas Republicanos (pró-Saleh) na região central de Ibb e nas províncias de Hajja e Saada, feudos xiitas no Norte do país.
 

   


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