Assad ataca Alepo mas promete suspender combates durante seis semanas

Enviado especial da ONU tenta pôr em marcha plano que passa por negociar tréguas cidade a cidade. Anúncio coincide com ofensiva do Exército na maior cidade da Síria

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Alepo é, desde o Verão de 2012, palco de uma batalha crucial Hosam Katan/Reuters

Staffan de Mistura diz “não ter ilusões” sobre o quão difícil será negociar uma trégua (mesmo que localizada) e conseguir que ela seja cumprida. “Com base nas experiências do passado, sei que esta é uma missão difícil de ser alcançada”, disse o diplomata ao apresentar no Conselho de Segurança os resultados da sua última deslocação à Síria e da “longa conversa” que manteve com o Presidente Bashar al-Assad.

Mistura explicou que o Governo sírio disse estar disponível para cessar os bombardeamentos “em toda a cidade de Alepo” sob a condição de os rebeldes pararem também os disparos de rockets e morteiros. A data da entrada em vigor do cessar-fogo será anunciada em Damasco, onde o enviado pretende regressar o quanto antes, antes de seguir para Alepo a fim de negociar a aplicação do plano no terreno.

Alguns membros do Conselho de Segurança, adianta a AFP sem identificar os visados, permanecem cépticos em relação à iniciativa. Não só porque anteriores tréguas fracassaram ou serviram apenas para permitir a rendição de zonas subjugadas por longos meses de cerco militar – como aconteceu na Cidade Velha de Homs – mas também porque o anúncio foi feito na mesma altura em que as forças leais a Assad lançaram uma nova ofensiva para cortar as linhas de abastecimento dos rebeldes.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que reúne informações de activistas no terreno, o Exército e as milícias aliadas tomaram na terça-feira um punhado de aldeias situadas junto à principal estrada que liga o Norte de Alepo à fronteira turca. A organização adianta que os rebeldes conseguiram reconquistar duas localidades, mas a estrada permanece cortada, sob o fogo dos militares. Ilustrando a violência dos combates, o Observatório diz que perto de 160 combatentes foram mortos – 88 rebeldes e 70 soldados e milicianos.

“Isto não quer dizer que o regime tenha conseguido cercar os bairros rebeldes”, disse à Reuters Rami Abdel Rahman, director do Observatório, explicando que eles podem usar outra estrada para norte, mas têm de circundar zonas sob controlo do Exército, que domina a metade oeste daquela que foi a capital económica da Síria. “É um grande desvio” para chegar à Turquia, explicou.

Alepo é, desde o Verão de 2012, palco de uma batalha crucial para o equilíbrio de forças na guerra da Síria, opondo o Exército a forças rivais da oposição, onde militam grupos seculares, islamistas e a Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda no Iraque. Um combate sem tréguas que destruiu bairros inteiros, paralisou a economia e provocou milhares de mortos – os barris de explosivos lançados pelos helicópteros militares tornaram-se parte do quotidiano das zonas sob controlo rebelde.

É, por isso, o terreno prioritário para testar o plano de tréguas locais que Mistura tenta pôr em marcha desde Outubro. O objectivo, reafirmou na terça-feira em Nova Iorque, “é poupar o mais possível os civis” e permitir que lhes seja enviada ajuda. A ideia é replicar o cessar-fogo noutras frentes de combate, como nos subúrbios de Damasco, e incentivar os beligerantes a negociar uma solução para a guerra. Mas o próprio enviado admite que não há, para já,  grandes razões de optimismo. "Sempre que há uma proposta de cessar-fogo, a experiência mostra-nos que há uma aceleração” nos combates em que cada parte tenta melhorar a sua posição. “Temo que possa ser o caso.”

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