Protestos de casta indiana deixam 17 milhões sem água em Nova Deli

Motins e pilhagens por parte da comunidade Jat deixaram 19 mortos e 150 feridos. Manifestantes exigem melhores condições de vida para a sua casta.

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O fornecimento de água só deve voltar à normalidade esta terça-feira Anindito Mukherjee/reuters

Líderes da casta rural indiana Jat chegaram a acordo com líderes federais e estatais para pôr fim aos protestos que duram há três dias no estado de Haryana, no norte da Índia. No seguimento das manifestações, pelo menos 19 pessoas morreram e 150 ficaram feridas, segundo os últimos números avançados pelo jornal britânico The Guardian.

Os protestos por parte da comunidade Jat, tipicamente rural e agrícola, por maior acesso a empregos públicos tornaram-se mais violentos ao ponto de terem destruído a infra-estrutura hídrica no estado de Haryana, o que cortou o fornecimento de água potável a cerca de 17 milhões de residentes em Nova Deli. Ao inicio do dia, o exército retomou o controlo da situação e era expectável que a água retorne à metrópole ao início do dia de terça-feira, segundo informações do ministro-chefe de Nova Deli, Arvind Kejriwal, à Reuters. 

Os manifestantes Jat aumentaram os seus protestos para expressar a raiva contra o primeiro-ministro, Narendra Modi, exigindo garantias por escrito de mais postos de trabalho para a sua comunidade. Muitos dos membros desta casta – que constituem cerca de 80 milhões da população no norte da Índia – são agricultores cujo estilo de vida foi profundamente afectado por dois anos de seca que prejudicaram as suas plantações, sendo que estão também a perder muitos empregos urbanos. Exigem mais empregos públicos e lugares nas universidades, que normalmente estão reservados a grupos desfavorecidos.

Milhares de soldados foram mobilizados para reprimir os protestos, que se intensificaram na segunda-feira perto da cidade de Sonipat, no norte da Índia, quando um comboio de carga foi incendiado. No vizinho estado do Rajistão, manifestantes da comunidade Jat atacaram e queimaram vários comboios, levando ao cancelamento de 850 viagens e ao encerramento de 500 fábricas, segundo informações da Reuters. Já no domingo, várias lojas foram incendiadas.

Depois da tensão, líderes da comunidade Jat e as autoridades indianas parecem ter chegado a um acordo, após a promessa do Governo indiano em aceitar as exigências da comunidade. “O governo prometeu ir ao encontro das nossas exigências e nós prometemos a nossa total cooperação”, afirmou Ramesh Dalal, líder da comunidade Jat, à Reuters.

Os Jat são a maior comunidade em Haryana, com cerca de oito milhões de membros. Estão actualmente listados como casta superior no sistema de castas indiano, mas os seus representantes têm vindo a exigir a inclusão de quotas para mais empregos e oportunidades de educação que estão disponíveis para as castas mais baixas desde 1991.

Em Março de 2014, o Governo indiano afirmou que iria recategorizar os Jat enquanto  casta inferior (OBC), o que lhes permitiria ter acesso a quotas em mais empregos governamentais. Contudo, em 2015, o Supremo Tribunal da Índia recusou esta intenção. Numa altura em que os empregos escasseiam no sector privado e os rendimentos agrícolas têm diminuído, a comunidade Jat tem exigido o restabelecimento do seu estatuto de casta inferior. 

Texto editado por Joana Amado

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