IBM vendeu mesmo a sua divisão dos PC à empresa chinesa Lenovo

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A venda foi anunciada oficialmente na semana passada Mo Yi/EPA

A IBM anunciou em meados da passada semana a alienação da sua "divisão de computação pessoal" à Lenovo, o maior fabricante chinês de computadores pessoais, que já detinha cerca de 3 por cento do mercado mundial dos PC quase exclusivamente graças às suas vendas no mercado da República Popular da China.

A transacção será concretizada no segundo trimestre de 2005 se as autoridades reguladoras de ambos os países não levantarem obstáculos à operação, o que ninguém espera que venha a acontecer. A venda do seu negócio de PC trará à IBM um encaixe de 650 milhões de dólares em dinheiro e um lote de acções do grupo Lenovo no valor de 600 milhões de dólares - o que fará dela o segundo maior accionista do grupo chinês, com cerca de 18,9 por cento do capital da Lenovo Holdings. Para além disto, a Lenovo assumirá 500 milhões de dólares do passivo da divisão de PC da IBM, pelo que o valor total da operação se cifrará nos 1750 milhões de dólares.

Assim, 23 anos e alguns meses depois de ter desencadeado uma verdadeira revolução no mundo da informática com o lançamento do seu primeiro computador pessoal - o primeiro a ter por detrás uma grande empresa de prestígio e com capacidade fabril e de "marketing" para o vender a nível global -, a IBM abandonou esta arena onde a concorrência cada vez mais competitiva e vende o seu negócio dos PC ao grupo chinês Lenovo

Mas o que, à primeira vista, poderá parecer uma mera alienação de um activo encerra, na verdade, uma aliança estratégica que poderá vir a assumir consequências de proporções imprevisíveis para qualquer das empresas. Aliás, o relacionamento entre ambas era já antigo, tendo a Lenovo sido representante e distribuidora da IBM na República Popular da China em meados dos anos 80.

No que toca à IBM, o presente acordo traz três grandes vantagens. A primeira, e mais imediata, reside no alívio financeiro resultante da eliminação dos crónicos prejuízos do seu negócio de computadores pessoais. Estes, apesar de contribuírem para 12 por cento da sua facturação, com 2,7 milhões de unidades vendidas em 2003, sempre constituíram uma fonte de prejuízos para a Big Blue - desde sempre devido à implacável concorrência não só dos líderes mundiais (como o são hoje a Dell Computer e a HP), como, mais recentemente, dos fabricantes asiáticos.

A segunda vantagem consiste na aliança estratégica com a nova Lenovo, pois da fusão dos seus negócios de PC resultará quase inevitavelmente aquele que passará a ser o terceiro maior fabricante mundial de computadores pessoais, com vendas anuais na ordem dos 11,9 milhões de unidades, uma facturação de 12 mil milhões de dólares e uma quota de mercado entre os 8 e os 9 por cento - logo a seguir à Dell, com 18 por cento do mercado e mais de 8 milhões de computadores vendidos em 2003, e à HP, cujas vendas de cerca de 7,2 milhões de unidades lhe deram no ano passado uma quota de 16,1 por cento.

A terceira vantagem da IBM neste acordo com a Lenovo - dado que esta passará a suprir todas as necessidades de computadores pessoais da empresa norte-americana, sejam eles de secretária ou portáteis - consistirá nos benefícios que a Big Blue poderá retirar do exponencial crescimento do mercado chinês dos PC (incluindo dos modelos de secretária) graças uma parceria estratégica com o maior fabricante e vendedor local. Esses benefícios residirão não só no seu quinhão dos lucros como nas economias de escala proporcionadas por um mercado gigantesco e em crescimento exponencial como já o é o da República Popular da China e de alguns países asiáticos que só agora estão a abrir-se ás tecnologias de informação.

E a comprovar o facto de este acordo envolver uma aliança estratégica de longo prazo entre a IBM e a Lenovo está o facto de a sede internacional da Lenovo se ir localizar em Nova Iorque, nos EUA, e de os seus "principais centros operacionais" passarem a situar-se, para além de Pequim, na China, em Raleigh, um dos mais importantes núcleos da divisão dos PC da IBM nos EUA. Incluída na transacção estará também uma fábrica de computadores pessoais e servidores que a IBM já detinha na China em conjunto com a empresa local Great Wall [Grande Muralha] - mas a parte relativa aos servidores eServer xSeries ficará de fora da operação.

As duas empresas fizeram saber, por outro lado, que o acordo prevê uma estreita cooperação entre elas a nível mundial, não só em matéria de investigação e desenvolvimento como nos domínios do "marketing", da venda, da assistência e dos serviços financeiros a grandes clientes - estes usados pela IBM desde há alguns anos como trunfo competitivo na disputa pelas chamadas "grandes contas", oferecendo directamente crédito para a aquisição dos seus equipamentos e do seu "software" ou ainda soluções assentes em contratos de aluguer ou de "leasing" dos seus serviços de tecnologias de informação.

A Lenovo, para além do efeito de escala e da associação à marca mais emblemática na informática, passará a tirar partido da rede de distribuição, vendas e assistência a clientes empresariais da IBM, presente em 160 países, e ainda da "concessão" de tecnologias e de marcas - como a da linha de computadores portáteis Thinkpad -, que gozam de uma excelente imagem junto dos utilizadores profissionais em todo o mundo.

O grupo Lenovo - cotado na Bolsa de Hong Kong desde 1994 e um dos principais patrocinadores da candidatura da China à organização das Olimpíadas - não se limita a produzir e vender computadores e servidores: o seu fabrico estende-se a componentes, periféricos e produtos tão diversos como telemóveis e periféricos informáticos. A sua posição de liderança no mercado chinês dos PC tem-se mantido inalterada desde há sete anos, tendo atingido os 27 por cento no ano passado.

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