Grupo de jornalistas divulga carta aberta “Pelo jornalismo, pela democracia”

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A carta alerta para "um enfraquecimento da democracia” devido ao estado da imprensa Eva Carasol/arquivo

Um grupo de jornalistas, entre os quais Diana Andringa e Adelino Gomes, divulgaram uma carta aberta, intitulada “Pelo jornalismo, pela democracia”, a alertar para a crise que afecta os meios de comunicação social em Portugal.

“A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática”, refere a carta aberta, a que a Lusa teve acesso.

“O jornalismo não se resume à produção de notícias e muito menos à reprodução de informações que chegam à redacção. Assenta na verificação e na validação da informação, na atribuição de relevância às fontes e acontecimentos, na fiscalização dos diferentes poderes e na oferta de uma pluralidade de olhares e de pontos de vista que dêem aos cidadãos um conhecimento informado do que é do interesse público, estimulem o debate e o confronto de ideias e permitam a multiplicidade de escolhas que caracteriza as democracias”, adianta o documento.

Este exercício exige recursos e condições de trabalho.

“E não se pode fazer sem jornalistas ou com redacções reduzidas à sua ínfima expressão”, numa alusão aos despedimentos que têm sido anunciados nos últimos tempos em vários órgãos de comunicação social.

“As lutas a que assistimos num sector afectado por despedimentos colectivos, cortes nos orçamentos de funcionamento e precarização profissional extravasa, pois, fronteiras corporativas. Sendo global, a crise do sector exige um empenhamento de todos – empresários, profissionais, Estado, cidadãos – na descoberta de soluções”, alerta.

A redução do número de trabalhadores no sector e o desinvestimento nas redacções conduzem “a uma perda de rigor, de qualidade e de fiabilidade, que terá como consequência, numa espiral recessiva de cidadania, a desinformação da sociedade, a falta de exigência cívica e um enfraquecimento da democracia”, lê-se na mesma carta.

Isto porque “existe uma componente de serviço público em todo o exercício do jornalismo, privado ou público” e este último “não pode ser transformado, como faz a proposta do Governo para o Orçamento do Estado de 2013, numa repartição de activos em função da especialização de diversas áreas de negócios por parte do ‘accionista Estado’”.

O jornalismo, adianta-se no documento, “não é apenas mais um serviço entre os muitos que o mercado nos oferece”, “é um serviço que está no coração da democracia” e porque a “crise dos media e as medidas erradas e perigosas com que vem sendo combatida ocorrem num tempo de aguda crise nacional, torna-se mais imperiosa ainda a função da imprensa”.

O jornalismo é “um património colectivo” e a luta “das redacções e dos jornalistas, hoje, é uma luta de todos nós, cidadãos”, afirmam os subscritores.

“Por isso manifestamos a nossa solidariedade activa com todos os que, na imprensa e online, na rádio e na televisão, lutando pelo direito à dignidade profissional contra a degradação das condições de trabalho, lutam por um jornalismo independente, plural, exigente e de qualidade, esteio de uma sociedade livre e democrática”.

Os subscritores da carta aberta desafiam “todos os cidadãos a empenhar-se nesta defesa de uma imprensa livre e de qualidade e a colocar os seus esforços e a sua imaginação ao serviço da sua sustentabilidade”.

Esta carta é subscrita por mais de 70 jornalistas de diversos órgãos de comunicação social.

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