Tudo em aberto para a concessão da linha de Cascais

Serão os candidatos/interessados a propor o modelo de concessão da linha de Cascais

Foto
A CP vai receber 36,9 milhões de euros João Gaspar

Quando não há dinheiro não se podem impor regras rígidas e por isso o modelo para concessionar a privados a exploração da linha de Cascais será, grosso modo, definido pelo próprio concessionário.

O Governo deverá lançar em Maio um processo de auscultação dos potenciais candidatos à concessão daquela linha ferroviária, na qual serão eles a propor o modelo que lhes parece mais interessante. O executivo escolherá, depois, o modelo que será adoptado.

Os interessados na linha de Cascais são para já a empresa Barraqueiro (que detém a Fertagus e o Metro Sul do Tejo), os grupos franceses Transdev e Keolis (este último detida pela SNCF), a Arriva (multinacional de origem inglesa comprada pelos alemães da Deutsche Bahn), e os britânicos Stage Coach e  National Express. Dois deles – Keolis e Arriva – são empresas de capitais públicos.

O grupo de trabalho criado para estudar esta concessão deverá iniciar um processo de auscultação informal para ouvir as propostas dos interessados, tendo em conta que o Governo mantém tudo em aberto na forma como os privados poderão tomar conta da linha de Cascais.

Estes terão de dizer se querem trazer com eles o material circulante (que poderão comprar ou alugar), qual o prazo da concessão, se querem a gestão das estações, se querem o pessoal da CP ou se recrutarão eles próprios os seus funcionários, qual o tarifário a praticar e – o mais importante – que dinheiro pedirão ao Estado no âmbito do serviço público que irão assegurar e/ou quanto estão dispostos a pagar se o contrato gerar lucros (desde que reduzidas as obrigações de serviço público).

Por exemplo: a garantia de efectuar determinado número de comboios fora das horas de ponta e no período nocturno pode ser decisivo para os resultados de exploração.

Se quanto ao material circulante é mais do que provável que ele fique a cargo do concessionário, já o investimento na infra-estrutura deverá ser o Estado a assumi-lo através da Refer. Mas até mesmo esta questão está em aberto pois o concessionário poderá querer participar no investimento (nomeadamente ao nível das estações, dado que estas serão essenciais no aspecto comercial da sua actividade) e poderá também querer assegurar a manutenção da própria linha.

O Plano Estratégico dos Transportes e Infra-estruturas (PETIprevê um investimento de 160 milhões de euros na linha de Cascais, dos quais 32 milhões ficarão a cargo de privados.

Das poucas coisas que parecem pacíficas neste processo é a decisão de mudança da alimentação eléctrica, já que nesta linha os comboios são alimentados a 1500 volts em corrente contínua, enquanto no resto do país se utilizam os 25 mil volts em corrente alterna. A reconversão do tipo de alimentação eléctrica permitirá que a frota hoje limitada ao percurso Cais do Sodré – Cascais possa ser usada no resto da rede.

O presidente da CP, Manuel Queiró, (ver PÚBLICO de 14/04/2014) diz que os 160 milhões de euros previstos para esta linha resultam do orçamento a que  chegou o Grupo de Trabalho para as Infra-estruturas de Valor Acrescentado, mas sem ter em conta o modelo de financiamento e que “o governo incluiu isso no PETI num prazo muito alargado, o que significa que quererá deixar todas as hipóteses em aberto”. Ainda este ano, disse, haverá sobre esta matéria um “processo de decisão que será transparente”.

CP promove comboios com uma imagem de um autocarro  
A CP colocou no Facebook um anúncio de promoção dos seus comboios urbanos, mas com uma fotografia do interior de um autocarro.

A imagem mostra, de facto, um veículo de transporte suburbano, com um público jovem (ao qual se destina o anúncio que promove um passatempo), mas um olhar mais atento constata que se trata de um autocarro e não de uma carruagem de comboio.

A empresa diz que se tratou de “um lapso que já está a ser alvo de correcção” e explica que este trabalho foi desenvolvido por um fornecedor externo, mas sem custos “uma vez que está contratado ao abrigo do valor fixo para desenvolvimento de comunicação publicitária”.

Os bancos de imagens revelam-se, por vezes, traiçoeiros, visto que, há alguns meses, um outro anúncio da CP relativo à linha do Oeste tinha como fundo uma estação de caminhos-de-ferro inglesa. Há uma década a empresa já se tinha enganado ao comprar a uma agência de comunicação um anúncio de promoção das viagens de comboios com uma imagem de uma estação que já estava desactivada. 

Sugerir correcção
Comentar