Médicos alertam para riscos devido à greve da recolha do lixo em Lisboa

Dois sindicatos convocaram paralisação para quinta-feira.

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Recolha selectiva de lixo pode dar direito a mais napos, propõe autarquia Reuters

Os trabalhadores da limpeza urbana, em Lisboa, são as pessoas mais expostas ao risco decorrente da greve dos funcionários do município agendada para quinta-feira, pois têm de recolher os resíduos após a paralisação, alertaram os médicos de saúde pública.

“As pessoas mais expostas ao risco são os próprios trabalhadores que, uma vez terminada a greve, vão ter de manipular o lixo e recomenda-se que tenham cuidado”, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Mário Jorge Santos.

A paralisação de quinta-feira – dia dos casamentos do Santo António, das marchas populares e na véspera do dia da cidade –, foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), abrangendo todos os sectores e funcionários da autarquia e das juntas de freguesia de Lisboa. Os trabalhadores do município também vão estar em greve ao trabalho extraordinário entre 13 e 22 deste mês, e no sábado os funcionários da limpeza urbana vão parar entre as 0h e as 5h.

Mário Jorge Santos adiantou que a recuperação [da higiene] da cidade é outro aspecto a ter em conta, pois, segundo o médico, não se sabe se, quando a paralisação terminar, “se consegue dar destino a todos os resíduos acumulados”.
O presidente da ANMSP acrescentou que a acumulação de lixo biológico e orgânico “nunca é boa para a saúde”, nomeadamente numa época de temperaturas elevadas, que faz com que estes resíduos entrem mais facilmente em decomposição. Esta conjuntura pode também atrair animais, como ratos e moscas, que acarretam doenças, “embora na actualidade em Portugal essas doenças sejam raras”, frisou.

Mário Jorge Santos reconheceu, no entanto, que tratando-se de um período curto, “provavelmente não haverá grandes problemas”. De acordo com o profissional de saúde, tudo depende da gestão dos resíduos, que pode ser dificultada pelo processo de transferência de competências para as juntas de freguesia.

Carla Madeira, presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, que abrange bairros como a Bica e o Bairro Alto, indicou que esse processo “não vai afectar” os efeitos da paralisação, pois “uma coisa não tem nada a ver com outra”.

Já o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, que inclui Alfama, o Castelo e a Mouraria, entre outros bairros, apontou que a greve “vai ter consequências muito nefastas para as populações destes bairros, [porque] vão vender muito menos”. Afirmando-se preocupado com esta questão, Miguel Coelho apelou ao esforço da Câmara Municipal de Lisboa, reconhecendo, porém, que “todas as medidas serão certamente muito insuficientes para responder” à greve.

Mário Jorge Santos recomendou que os visitantes evitem os locais de grande concentração de lixo e que os moradores tentem produzir o mínimo possível de resíduos.

Na terça-feira, o presidente da Câmara de Lisboa e o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa estiveram reunidos durante cerca de quatro horas e meia, sem que a greve tivesse sido desconvocada. “A greve para já mantém-se. Vamos reunir amanhã [quarta-feira] com a direcção [do sindicato] para avaliar as propostas que o senhor presidente [da Câmara Municipal de Lisboa] nos apresentou, de solução dos vários problemas que aqui trouxemos”, disse Vítor Reis, do sindicato, no final da reunião.

Vítor Reis acrescentou que em cima da mesa esteve a proposta de entrada imediata de 150 trabalhadores para a área da limpeza urbana, sendo que 125 serão avençados e os restantes contratados através do regime do Contrato Emprego-Inserção, do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

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