Lisboa quer ganhar o Mayors Challenge com produção de electricidade a partir do trânsito

O projecto resulta de uma parceria da câmara com a Waydip, empresa que desenvolveu uma tecnologia que permite aproveitar a energia cinética libertada pelos veículos e convertê-la em electricidade.

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A Avenida da República e a Segunda Circular são algumas das localizações em estudo para concretizar este projecto Filipe Arruda

António Costa diz-se confiante de que Lisboa, que foi escolhida para fase final do Mayors Challenge com um projecto que prevê a transformação da energia gerada pelo tráfego em electricidade, pode sair vitoriosa desta competição, à qual concorrerem 155 cidades de toda a Europa.

“Vamos com certeza conseguir ganhar. É por isso que nos batemos”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa. António Costa falava numa conferência de imprensa que se realizou esta quarta-feira, dia em que se soube que a capital portuguesa é uma das 21 cidades seleccionadas para a fase final do concurso promovido pela organização Bloomberg Philanthropies.

Braga, Cascais, Coimbra, Odivelas, Sintra também concorreram ao Mayors Challenge mas não chegaram à lista de finalistas. Já Leiria e Vila Nova de Gaia inscreveram-se na iniciativa mas acabaram por desistir de participar.

Os vencedores deverão ser anunciados em Setembro ou Outubro, sabendo-se já que a cidade que ficar em primeiro lugar arrecadará cinco milhões de euros e as quatro seguintes um milhão de euros cada. A intenção é premiar ideias inovadoras, susceptíveis de melhorar a vida dos cidadãos e com potencialidades para serem disseminadas para outras localizações.   

O projecto apresentado por Lisboa resulta de uma parceria do município com a Waydip. Esta empresa, criada para tornar real uma ideia nascida na Universidade da Beira Interior, desenvolveu uma tecnologia que permite aproveitar a energia cinética libertada pelos veículos, convertendo-a em electricidade.

Francisco Duarte, um dos autores desta tecnologia, que no ano passado foi testada numa passadeira da Covilhã, explicou que a energia captada é “transformada localmente” em electricidade, que pode ser consumida no mesmo sítio (por exemplo para alimentar semáforos), armazenada ou injectada na rede. Para que isso aconteça, precisou, é “colocado um tapete, por cima do pavimento”, uma operação que segundo diz leva “algumas horas”.   

João Paulo Champalimaud, gestor da Waydip, acrescentou que no caso de Lisboa aquilo que se pretende é “oferecer à câmara uma fonte alternativa de energia, que ao ser injectada na rede permitirá ter uma fonte de rendimento para a cidade”. E António Costa até já tem um destino para essa receita: será investida no financiamento de programas de mobilidade eléctrica e de mobilidade inclusiva.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira não foram divulgados números, mas num sumário do projecto que foi distribuído aos jornalistas diz-se que o aproveitamento da energia gerada pelo tráfego poderá traduzir-se em “poupanças de 145 mil euros em consumos eléctricos e reduções na ordem das 337 toneladas de emissões de CO2”.

Se Lisboa for uma das vencedoras do Mayors Chellenge, adiantou Francisco Duarte, a ideia é que o projecto se desenvolva em dois anos. O primeiro será de “investigação e desenvolvimento” e incluirá a escolha dos locais onde a nova tecnologia será aplicada. A Avenida da República e a Segunda Circular são algumas das hipóteses em estudo. No segundo ano, acrescentou o fundador da Waydip, prevê-se “a instalação concreta da primeira ou de mais instalações piloto”.

António Costa sublinhou que este projecto permitirá “transformar um grande problema da cidade”, que é o trânsito, “numa oportunidade”. Recordando que esta candidatura ao Mayors Challenge nasceu de “uma interessante parceria entre a cidade e jovens empreendedores e investigadores”, o autarca considerou ainda que este é “um bom exemplo de como as cidades podem ser laboratórios vivos de inovação, centros difusores de novas práticas”.

Já o vereador do Urbanismo e do Espaço Público destacou que este projecto vai ao encontro dos “três grandes objectivos do concurso” - a inclusão, o desenvolvimento económico e a sustentabilidade -, na medida em que irá permitir um investimento na mobilidade inclusiva, a partir de uma produção de electricidade que aproveita algo que já existia sem gerar mais CO2. “Desde o início considerámos que podia ser uma proposta ganhadora”, concluiu Manuel Salgado.

Mas irá este projecto ser concretizado caso a candidatura de Lisboa não saia vitoriosa? Quanto a isso António Costa não deu uma resposta cabal. “Não diria que [a sua execução] está condicionado pelo prémio”, começou por dizer, salvaguardando pouco depois que “não é função da câmara financiar a investigação”. “Mas seremos compradores do sistema assim que esteja desenvolvido”, concluiu.

Em Junho representantes das 21 cidades finalistas irão participar numa conferência de dois dias em Berlim e no mês seguinte terão de apresentar as versões finais das propostas.

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