Executivo de Rui Moreira muda a agulha e abre os braços à arte urbana

Câmara do Porto, que na quarta-feira inaugura grande exposição no interior do edifício Axa, quer espalhar estas manifestações artísticas pela cidade.

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Artistas que estão a trabalhar no edifício Axa pintaram seis cabines nos Aliados Paulo Pimenta
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Artistas que estão a trabalhar no edifício Axa pintaram seis cabines nos Aliados Paulo Pimenta

Camões já o escrevera. Mudam-se os tempos…. E os graffiters que trabalham no Porto podem dormir descansados, que nenhuma brigada da autarquia lhes vai apagar o trabalho. O executivo de Rui Moreira elevou o graffiti ao estatuto de Arte Urbana que outras cidades em Portugal, e no mundo, já lhe atribuíram, e está activamente a procurar espaços na cidade para serem alvo da intervenção destes artistas. Alguns dos melhores estão por estes dias no edifício Axa, nos Aliados, a pintar seis pisos para uma exposição indoor, organizada pela empresa municipal Porto Lazer, que é já um sinal dos novos tempos.

No último ano de Rui Rio na autarquia alguma coisa foi mudando. Principalmente depois de algum debate provocado pela destruição de uma pintura de Hazul numa casa devoluta por parte de uma brigada encarregue de cobrir de tinta tags e outros gatafunhos que estragam muitas paredes da cidade. No Axa, no ano passado, um trabalho de Draw e Alma, Rio o anti-grafitos, mostrava um retrato do autarca “vandalizado”, em jeito de provocação. E é no mesmo espaço, em vários pisos, que 22 artistas, alguns deles estrangeiros vão, esta quarta-feira, inaugurar a exposição Street Art Axa.

Esta só estará um mês nas paredes do Axa, que ao longo do ano vão ter outras ocupações, como uma esperada exposição de Henri Cartier-Bresson. Mas na rua, seis cabines telefónicas pintadas, nos Aliados, transportam esta manifestação para a rua, lugar de onde a autarquia pretende que não saia. As cabines serão mais tarde requalificadas pela PT, recuperando a sua cor vermelha, mas, explicou o administrador da Porto Lazer, vários departamentos da autarquia já fizeram parte de um levantamento de sítios na cidade que poderão tornar-se, na linguagem dos Writters, novos spots para o seu trabalho.

Prosseguindo uma proposta inscrita no manifesto eleitoral de Rui Moreira – e elaborada, na altura, pelo actual vereador da cultura, Paulo Cunha e Silva – a Câmara do Porto quer “regulamentar” esta actividade, propondo sítios licenciados onde ela possa acontecer, mas recusa qualquer vontade de disciplinar a estética. “Temos de preservar a liberdade de intervenção, até política”, frisa Hugo Neto, admitindo apenas que, nalgumas paredes, em áreas especificas da cidade, possa ser proposto, no limite, um tema sobre o qual cada artista deverá trabalhar.

“É do nosso entendimento que a Arte Urbana contribui para a valorização do espaço público”, nota Hugo Neto, assumindo que este tipo de intervenção pode ser conjugado com a reabilitação do edificado para a requalificação urbana e social de áreas degradadas. Para já, a Câmara do Porto está a elencar espaços públicos, mas num segundo momento admite propor a privados a utilização de paredes de edifícios de comércio ou habitação, de modo a transformar a cidade numa galeria viva. Para isso, explicou o administrador da Porto Lazer, o município pretende também agilizar a relação com os artistas e o licenciamento, embora não vá criar para o efeito qualquer estrutura nova, como o Gabinete de arte Urbana que existe em Lisboa.    

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