Em Loures, discute-se o destino a dar aos "poucos milhões" do orçamento

A câmara está a promover um conjunto de sessões para debater com os munícipes as prioridades do orçamento para o próximo ano. Bernardino Soares garante que os contributos recebidos "com certeza vão ter reflexo" no documento, mas avisa que é impossível "chegar a todo o lado".

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A Câmara de Loures está a promover, até ao dia 17 de Outubro, sessões para discutir o orçamento para 2016 com a população Nuno Ferreira Santos/Arquivo

Não é preciso ir além da primeira intervenção do público para perceber, como há-de constatar alguns minutos mais tarde o presidente da Câmara de Loures, que quando se resolve um problema “aparecem logo mais dez”. Pelo segundo ano consecutivo, o município está a debater com a população as prioridades do seu orçamento e não faltam opiniões sobre onde devem ser gastos “os poucos” milhões disponíveis.

Este ciclo de debates sobre o orçamento para 2016 começou na quarta-feira, com três sessões em simultâneo: uma em Loures, outra em Lousa e uma terceira em Santo Antão do Tojal. O PÚBLICO acompanhou a última destas sessões, que se prolongou por perto de três horas e reuniu mais de meia centena de pessoas na Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos daquela localidade.

“O que é verdadeiramente participativo é antes de tomarmos as decisões ouvirmos os destinatários e incorporarmos no orçamento o que nos transmitem”, justifica no arranque da sessão o presidente da câmara. Aos que possam estar mais desconfiados de que o seu contributo serve realmente para alguma coisa, Bernardino Soares lembra que no ano passado houve reivindicações dos munícipes, por exemplo ao nível da rede viária e do espaço público, que se “traduziram em decisões”.

Mas para que não haja ilusões sobre aquilo que a câmara pode fazer, o autarca começa por fazer “uma pequena introdução sobre o percurso até aqui”, na qual lembra as dificuldades com que se tem confrontado desde que assumiu a presidência em 2013. Bernardino Soares elenca também o trabalho feito desde então, como a redução da dívida do município, a conclusão do Plano Director Municipal, o investimento em “áreas carentes” como a rede escolar e viária, a aposta na política cultural e “a melhoria da comunicação e da transparência”.

Aos presentes, o autarca do PCP sublinha que isso foi feito “sem agravar a política fiscal” e acrescenta que “para começar a encontrar condições para fazer mais investimento” se decidiu contratar um empréstimo de 12 milhões de euros. “A uma taxa de juro baixíssima”, assegura, explicando que “a maior fatia” foi destinada ao investimento nas escolas do concelho.

Enquanto fala, Bernardino Soares vai projectando um conjunto de slides. Num deles está um gráfico circular em que se mostra “onde é que está o dinheiro”. “É um queijo com o fundamental das nossas despesas”, explica aos presentes.
“Isto é rígido, são as coisas que não podemos deixar de pagar”, diz, referindo-se à quase totalidade do tal queijo, relativo ao orçamento de 2015. De fora fica apenas uma pequena fatia, de cor azul clara, que vale 14,5 milhões de euros de um total de mais de 120 milhões. “Isto é o que podemos decidir”, nota.

Para a fatia do queijo que estará disponível em 2016, o executivo definiu já um conjunto de prioridades, entre as quais a recuperação dos parques urbanos do concelho, o reforço da iluminação pública e a melhoria da ligação do município aos munícipes, através da criação de balcões únicos onde serão disponibilizados vários serviços da autarquia. É para saber o que pensa a população dessas prioridades, e para confirmar que vão ao encontro das suas “necessidades”, que esta sessão foi convocada.  

Apresentação concluída é tempo de ouvir o presidente da União das Freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal, João Florindo, e os populares que escolheram passar a sua noite de quarta-feira a ouvir falar no orçamento. A primeira a pronunciar-se é Rosário Paulino, que começa por “agradecer” à autarquia por ter avançado com a repavimentação da Estrada Municipal 541, em resposta a “reclamações feitas no ano passado”.

A residente na localidade de Pintéus elogia também o apoio dado pela câmara a uma colectividade da qual foi dirigente e depois avança com a primeira reivindicação da noite: a de que seja construído um parque infantil no sítio onde mora. Depois dela hão-de falar Francisco (que se apresenta assim mesmo, sem apelido), que diz que “está tudo cheio de buracos por aí fora”, e Elsa Inocêncio, que ouviu dizer que vai ser criada uma ciclovia entre o Infantado e Loures e “também gostava” que houvesse uma entre Santo Antão do Tojal e o Infantado.

Já Sueli Ventura queixa-se de quem caça junto a zonas residenciais e defende uma aposta na promoção de Loures enquanto destino turístico, enquanto Olinda Nunes apela a que sejam resolvidos os problemas de trânsito na rotunda de A-das-Lebres e que se encontre uma solução para o Bairro do Zambujal. Há também quem manifeste preocupação com a conservação do património histórico do concelho, como o Aqueduto de Loures, e quem se manifeste contra “o amontoar de lixo junto aos contentores e na via pública”.   

Bernardino Soares não deixa uma só intervenção sem resposta, mas isso não quer dizer que haja quem saia desta sessão com falsas expectativas. “A gente resolve um problema e aparecem mais dez”, constata a dada altura o autarca, dando como exemplo disso mesmo as solicitações feitas tanto este ano como em 2015 para que se requalifiquem as estradas do concelho. “De certeza que não vamos chegar a todo o lado”, avisa, demonstrando igual prudência quando responde ao pedido de construção de uma pista para bicicletas: “não podemos gastar os nossos milhões, os poucos que temos, em ciclovias”, diz, acrescentando que o concelho tem muitas outras “necessidades” que é preciso socorrer.

Já a noite vai longa quando Bernardino Soares dá por encerrada a sessão, não sem antes deixar a garantia de que os “contributos” recebidos “com certeza vão ter reflexo” no orçamento. Este sábado às 21h há novas sessões, em Frielas, Prior Velho e Bobadela.   

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