A herança dos Celtas no Norte também está no sangue

Congresso em Ponte da Barca discute presença deste povo na península, que se manifesta também numa doença, a hemocromatose,

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Porta do Gerês, no Lindoso Jorge Silva

E se fosse uma doença a mostrar a relação genética entre os povos de origem celta? A hemocromatose hereditária tem as frequências mais elevadas no Norte de Portugal e na Galiza e terá tido origem na Irlanda, há 60 gerações.

É sobre isso que o hematologista Joaquim Andrade vai falar, este sábado, no Congresso Transfronteiriço de Cultura Celta, em Ponte da Barca. Durante dois dias, especialistas de várias áreas vão discutir a “herança Celta” no Noroeste da Península Ibérica.

A hemocromatose – depósito de ferro excessivo nos tecidos, podendo provocar um conjunto de sintomas, da fadiga a dores abdominias, a insuficiência hepática ou cardíaca – hereditária tem origem numa mutação genética (C282Y), cujo aparecimento remonta a 60 gerações, segundo os investigadores. Terá aparecido no território da actual Irlanda, estendendo-se posteriormente para sul, primeiro para a Escócia, Cornualha e Bretanha. Depois para a Galiza e Norte de Portugal. Estas são precisamente algumas das chamadas Nações Celtas, que terão origem num conjunto de tribos indo-europeias que se espalharam por boa parte da Europa a partir do século VII a.C.

É esta dispersão da doença – que hoje em dia tem as suas frequências mais elevadas no Noroeste da Península Ibérica – que é usada por Joaquim Andrade para mostrar a relação genética entre as populações das regiões onde estes povos viveram. É uma “herança genética” que se junta à “herança cultural” que tem sido o tema do Congresso Celta que é promovido, desde 2006, pela Câmara de Ponte da Barca e pela Universidade Católica, em parceria também com o município espanhol de Ávila.

A organização reúne diferentes áreas científicas (genética, antropologia, filologia, história, psicologia, sociologia, arqueologia, etnografia) para promover junto da comunidade local “o gosto pela preservação do património material e imaterial” do município de Ponte da Barca, explica Manuel Joaquim Pereira, da organização do evento.

 “Temos algum património imaterial de origem Celta no concelho e decidimos avançar com esta ideia para promover o estudo dessa cultura”, afirma também. A festa do Pai Velho, na freguesia de Lindoso, uma festa rural que marca a despedida do Inverno, por altura do Carnaval, ou alguns topónimos locais, como o de terras da Nóbrega, que deu origem ao concelho de Ponte da Barca, são exemplos desse património.

Este ano, o programa do Congresso de Cultura Celta gira em torno do tema do “Território e Interculturalidade”. Entre os convidados estão também o director do Instituto de Estudios Celtas, Ramón Sainero, que abordará as influências celtas e indo-europeias na Península Ibérica; Fernando Alonso Romero, especialista em História das Culturas que apresentará uma investigação sobre as barcas fluviais de origem celto-romano, e António Afonso, doutorando na Universidade de Santiago de Compostela que apresentará uma comunicação sobre as marcas célticas no Monte de Santa Isabel, no concelho vizinho de Terras do Bouro. 

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