Professores com salários mais altos do que trabalhadores com a mesma qualificação

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Fenprof contestou dados quando divulgados no Education at a Glance PÚBLICO/Arquivo

Portugal, logo a seguir a Espanha, é um dos países em que os salários dos professores são mais altos, quando comparados com os de outros profissionais com qualificação académica semelhante, diz estudo da OCDE.

Tendo como referência o salário de um professor com 15 anos de experiência, o estudo intitulado Preparing Teachers and Developing School Leaders for the 21st Century (descarregue aqui em PDF), indica que, em média, entre os países da OCDE, este corresponde a 80 por cento do vencimento de outros profissionais com idades entre os 25 e os 54 anos, com educação superior. O relatório foi apresentado, quarta-feira, em Nova Iorque, EUA.

Aqueles valores descem para 60 por cento ou menos em países como a República Checa, a Hungria, a Islândia e a Eslovénia. De acordo com este relatório que se baseia em dados já divulgados em 2011 no Education at a Glance, o relatório que avalia o estado da Educação nos países da OCDE, e cujos dados avaliados são de 2009, os professores portugueses recebem mais 1,19 de salário do que outros trabalhadores a tempo inteiro com formação superior. Um valor que os coloca acima da média da OCDE que é de 0,77. Só a Coreia e a Espanha têm valores semelhantes a Portugal.

Ainda reportando-se a dados referentes a 2009, o relatório aponta para que os professores portugueses, quando comparados com a média da OCDE, têm salários superiores. Se por cá, os professores do 1.º ciclo ao ensinos secundário têm, no ensino público, salários anuais iguais; em muitos países isso não acontece, o que interfere com a média OCDE, que reflecte que os professores do 1.º ciclo ganham menos do que os colegas do secundário.

Assim, anualmente, os professores portugueses ganham, em início de carreira, 26.290 euros; 15 anos depois deverão ganhar 32.021 e, em final de carreira,46.197 euros anuais. Já a média da OCDE aponta, para os professores do 1.º ciclo valores de 22.820, 29.832 e 36.914 euros/anuais para o início de carreira, 15 anos de leccionação e em final de carreira, respectivamente. No secundário, a média da OCDE é de 25.332, 33.509 e 41.127 euros por ano. Valores que continuam a baixo dos referidos para os professores portugueses.

Fenprof contesta

De recordar que quando o


Education at a Glance

foi divulgado, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) enviou um ofício à OCDE contestando, de forma detalhada, a conclusão de que entre 2000 e 2009 o aumento salarial dos docentes portugueses estava acima do dos colegas europeus.Contactado hoje, Mário Nogueira reafirma a expressão usada na altura: "vigarice". "É uma vigarice o que o Governo português fez [ao enviar os dados à OCDE] porque omitiu que os professores portugueses têm carreiras congeladas e não estão nos escalões de acordo com o tempo de serviço."


Se é de esperar que com 15 anos de serviço um professor esteja no 4.º escalão, a verdade é que há "milhares de professores que continuam a ser contratados e ganham 1300 euros ilíquidos", exemplifica Mário Nogueira.

Mesmo um professor no quadro com esse tempo de serviço viu a sua carreira congelada e perdeu quatro anos de tempo de serviço, que não está a ser contado. O secretário-geral da Fenprof lembra ainda que, actualmente, a classe perdeu cerca de 5% com os cortes salariais e os 14 meses de salários passaram a 12. "Ler que os professores ganham mais do que os outros trabalhadores é revoltante porque não é verdade", reforça.

Apesar de a Fenprof ter enviado um ofício à OCDE nunca recebeu qualquer resposta. "O Governo é vigarista por omissão. Quanto à OCDE, pode errar uma vez, mas estar a repetir os mesmos dados e não vir cá perceber o que se passa... Porque confia nos dados oficiais", lamenta.

O estudo apresentado reafirma que o factor salarial dos professores é apontado como um dos que têm influência no desempenho médio dos alunos.

Notícia actualizada às 11h28
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