"Medos não desaparecem sem o apoio da escola"

Os casos de indisciplina e de violência estão a aumentar o medo dos professores?

Os professores são considerados como pessoas com autoridade e com poder para controlar as situações de violência e de indisciplina. Contudo, na prática, todas as decisões que tomem e que impliquem uma punição são vistas como uma repressão. Mais do que medo de lidar com os alunos, os professores vivem em depressão por estarem impotentes. Encontram-se num papel que no fundo não podem exercer e estão esvaziados de autoridade. O descrédito da classe causa, naturalmente, depressão e ansiedade e não há transmissão de conhecimentos sem uma aula relativamente ordeira.


Que consequências terá este clima na formação dos alunos?

Há uma perspectiva de educação pela positiva exagerada. A greve aos trabalhos de casa, em 2004, é um exemplo de como se está a ensinar as crianças a desobedecerem e a ficarem sem hábitos de trabalho. E as regras, por vezes, têm de ser impostas de forma repressiva. Sempre que um aluno tem um comportamento desadequado, este deve vir acompanhado de uma consequência desagradável. Não pode persistir a ideia de que as coisas acontecem sem esforço. Estamos a formar uma geração que queremos que se sinta sempre bem... Mas sentir-se bem não é o mesmo que fazer bem. Fazer bem implica esforço e estes alunos quando um dia tiverem uma dificuldade não vão saber lidar com a frustração.


De que forma pode a escola reverter a situação? A solução passa por reforçar o poder dos directores das escolas?

É fundamental discutir e estabelecer estratégias em grupo. Se a cultura de uma escola for a "tolerância zero" a este tipo de situações, os conflitos vão diminuindo. O apoio de toda a comunidade educativa e um clima de protecção são essenciais para que os professores exerçam o seu trabalho. Deve haver suporte entre pares e o limite do aceitável deve ser bem definido. Os medos não desaparecem sem o apoio da escola e sem ser dada aos professores uma sensação verdadeira de segurança e controlo. De dizer que se vai dar autoridade aos directores a concretizá-lo vai um grande passo. Quanto aos alunos, é importante trabalhar a inteligência emocional, isto é, fazer com que compreendam as emoções e que consigam sentir o que é estar na pele do outro.


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