Assessora camarária fica com um quarto das aulas de Inglês das escolas de Lisboa

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Maria João Lopo de Carvalho argumenta que é muito organizada e que trabalha muito DR

As aulas de Inglês em quase um quarto das 96 escolas do 1º ciclo do ensino básico de Lisboa vão ser asseguradas, este ano lectivo, por uma empresa de que é proprietária a escritora Maria João Lopo de Carvalho, assessora da vereadora da Educação e Acção Social da Câmara de Lisboa, Helena Lopes da Costa.

A escolha dos parceiros responsáveis pelo ensino daquela língua coube aos conselhos executivos dos 31 agrupamentos escolares da cidade, que dependem directamente, a nível de instalações e de outros apoios, do gabinete da vereadora onde a escritora é a principal interlocutora das escolas. As propostas da empresa Know How, de que Maria João Lopo de Carvalho é gerente e única sócia, foram aceites por nove agrupamentos (que agregam 25 escolas) e foram já homologadas pelo ministério.

Os restantes 22 agrupamentos escolheram um total de dez outros parceiros, entre institutos privados de línguas (cinco para 17 agrupamentos), associações de pais (três para três agrupamentos) e juntas de freguesia (uma para dois agrupamentos).

A possibilidade de as escolas providenciarem o ensino gratuito do Inglês aos alunos do 3º e 4º ano de escolaridade foi objecto de um despacho governamental de 24 de Junho, que fixa em cem euros por ano e por criança o valor a pagar pelo Ministério da Educação aos parceiros seleccionados. Para avaliação das propostas desses parceiros, o ministério fixou diversos critérios, entre os quais "a experiência demonstrada pelas entidades ao nível da promoção do ensino precoce da língua inglesa".

No caso da empresa Know How, criada em 1988 por Maria João Lopo de Carvalho e por um sócio para ensinar Inglês, alguns responsáveis de outros institutos de línguas concorrentes às escolas de Lisboa garantiram ao PÚBLICO que ela não tem há muitos anos qualquer actividade nesse domínio. A sua escolha por nove dos agrupamentos escolares da cidade provocou também mal-estar entre muitos professores, que não percebem o motivo dessa opção, mas não deixam de a associar ao facto de a dona da empresa ser assessora da vereadora.

"Modéstia à parte, faço isto muito bem"

"Fui escolhida, porque apresentei um programa pedagógico melhor que os outros e só por isso", diz Maria João Lopo de Carvalho. "As pessoas conhecem-me, sabem como sou organizada e como trabalho. Além disso, as minhas propostas foram as primeiras a chegar. O despacho é de 24 e logo a 25 mandei as propostas", acrescentou.

A empresária confirma que a Know How já não dá aulas a crianças desde meados dos anos 90, mas tem mantido sempre a sua actividade como representante em Portugal de colégios ingleses que organizam cursos de férias, em Inglaterra, para aperfeiçoamento da língua.

Maria João Lopo de Carvalho salienta que a Know How "foi a primeira escola em Lisboa a ensinar Inglês extra-curricular a crianças entre os quatro e os 12 anos." Essa actividade foi exercida durante alguns anos a partir de 1988, numa escola própria, mas o estabelecimento foi encerrado há quase uma década.

Confrontada com as críticas que lhe são feitas, a escritora garante que não foi ela quem fez os contactos com os conselhos executivos, mas sim uma sua colaboradora. No entanto, acrescentou: "Cheguei ao pé dos agrupamentos e disse: eu estou na câmara mas sei que, modéstia à parte, faço isto muito bem. Vou ter os melhores livros e os melhores professores."

"Para mim, concorrer com a Know How é um dever cívico, porque sei que faço isso muito bem. Sei fazer isso bem e sei que os 30 a 40 professores treinados por mim vão ser uma mais-valia para os meninos de Lisboa."

Quanto à sua ligação à câmara, Maria João Lopo de Carvalho - que este Verão chegou a ser apresentada como candidata do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira, mas depois desistiu - diz que nunca a escondeu a ninguém e que se comprometeu a deixar a autarquia no dia das eleições. "Não há incompatibilidade legal nenhuma nesta situação, mas acho que não é bonito", conclui a escritora, justificando assim a sua prometida saída da câmara.

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