Cientista sul-coreano vai liderar painel climático da ONU

Líder do IPCC substituído depois de 13 anos, um Prémio Nobel e uma série recente de episódios negativos.

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Hoesung Lee, 69 anos, é o novo presidente do IPCC DR

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas – o principal farol científico internacional da luta contra as alterações climáticas – tem um novo presidente. O sul-coreano Hoesung Lee vai substituir o indiano Rajendra Pachauri, que se demitiu em Fevereiro, depois de 13 anos à frente do IPCC (a sigla em inglês do painel), abalado por uma série de episódios negativos nos últimos anos.

Hoesung Lee, 69 anos, é professor da Universidade da Coreia do Sul e especialista nos aspectos económicos das alterações climáticas, energia e sustentabilidade. Foi eleito esta terça-feira, numa reunião do IPCC na Croácia, por 78 votos contra 56 para o belga Jean Pascal van Ypersele. Ambos eram já vice-presidentes da organização criada pelas Nações Unidas em 1988, e na qual estão representados os governos de 190 países.

Os relatórios periódicos do IPCC são uma espécie de barómetro sobre o que a ciência sabe acerca das alterações climáticas. Neles, procura-se avaliar toda a literatura científica sobre o assunto e sintetizá-la em conclusões sobre o que está a se passar com o clima, o que pode acontecer no futuro e quais as razões, os impactos e as soluções possíveis.

Os resultados são aceites pela generalidade dos governos e servem de base a negociações internacionais no seio da ONU.

A quinta avaliação do IPCC, concluída no ano passado, reiterou que o aquecimento global é inequívoco, que há 95% de certezas de que a maior parte da culpa é humana e que, no pior cenário, a temperatura da Terra pode subir até 5oC até ao final deste século. Para limitar este aumento a 2oC – um nível considerado aceitável – é preciso reduzir as emissões mundiais de gases com efeito de estufa entre 40 e 70% até 2050 e a zero até 2100, segundo as conclusões do IPCC.

Hoesung Lee tem a tarefa de lançar a sexta avaliação global sobre as alterações climáticas, que levará cinco a sete anos até ficar pronta. O cientista sul-coreano já disse que deseja abordar mais os aspectos regionais do problema. Também quer alargar a participação científica das mulheres e de especialistas dos países em desenvolvimento.

“Como economista a lidar com os temas da energia e do clima, estou particularmente interessado nas relações das alterações climáticas com a criação de empregos, saúde, inovação e desenvolvimento tecnológico, acesso à energia e combate à pobreza”, disse Lee, numa conferência de imprensa esta quarta-feira. 

Melhorar a estratégia de informação do IPCC é outra aposta do novo presidente do IPCC. “Acima de tudo, precisamos proporcionar mais informação sobre as opções que existem para a prevenção e adaptação às alterações climáticas”, diz.

Nos últimos 13 anos em que foi liderado pelo cientista indiano Rajendra Pachauri, o IPCC passou da glória à suspeição. Em 2007, a organização foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz, juntamente com o ex-Presidente norte-americano Al Gore. Pachauri, líder do IPCC desde 2002, foi reeleito em 2008.

Logo a seguir, uma série de episódios mancharam a imagem científica do painel. Em 2009 explodiu o caso climategate, com a revelação de emails de uma universidade britânica que lançaram dúvidas sobre a credibilidade de alguns trabalhos científicos usados pelo IPCC. Seguiu-se a descoberta de que o painel tinha considerado um estudo sem validade científica para afirmar que os glaciares dos Himalaias poderiam desparecer até 2035.

Mais recentemente, Rajendra Pachauri foi acusado de assédio sexual por uma funcionária do instituto científico TERI, que dirige há décadas. Pachauri renunciou à presidência do IPCC em Fevereiro deste ano.

O trabalho do IPCC é uma das bases para a adopção de um novo tratado internacional climático, que vem sendo negociado desde 2005. Um momento decisivo terá lugar no final deste ano, numa conferência das Nações Unidas em Paris, de 30 de Novembro a 11 de Dezembro. Espera-se que desta cimeira saia um acordo global, com compromissos para todos os países, para vigorar a partir de 2020.

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