Quem acompanhará o trintão Ronaldo até ao Europeu de 2016?

Paulo Bento diz que a idade não será um factor de exclusão na campanha para o próximo Europeu, mas 14 dos 23 portugueses que estiveram no Mundial terão mais de 30 daqui a dois anos.

Foto
O "onze" de Portugal frente ao Gana: quantos vão continuar na selecção? Jorge Silva/Reuters

A idade não funciona necessariamente a favor ou contra a participação no Mundial. Por exemplo, a equipa com a média de idades mais alta do Mundial, a Argentina, passou aos oitavos-de-final, enquanto Portugal, a segunda selecção desta lista, não passou. O Gana, a selecção com média de idades mais baixa, não passou, mas a Nigéria e a Bélgica, respectivamente segunda e terceiras mais novas, passaram. Há jogadores como o colombiano Mario Yepes (38 anos) ou o mexicano Rafael Márquez (35) a fazerem um grande Mundial. Logo, faz sentido aquilo que Paulo Bento disse após o jogo com os ganeses, que a idade não será factor de exclusão na campanha para o Euro 2016.

Mas, olhando para os 23 jogadores portugueses que estiveram no Mundial do Brasil, vê-se que não se pode fazer uma selecção só com experiência e é isso que a selecção portuguesa se arrisca a ser se não acontecer, não uma revolução total, mas, pelo menos um rejuvenescimento. Em 2016, 14 destes 23 terão 30 ou mais anos de idade, incluindo Cristiano Ronaldo, com 31 durante a fase final do torneio, que se realiza em França de 10 de Junho a 10 de Julho. A qualificação começa já a 7 de Setembro próximo, com a Albânia, e a grande questão é: qual vai ser o nível de renovação operado por Paulo Bento, que, até prova em contrário, mantém-se no cargo, com contrato assinado, por vontade própria e com a confiança da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Dos 23, ainda nenhum anunciou formalmente a sua retirada da selecção, como acontecera há quatro anos – Paulo Ferreira, Simão, Miguel, Tiago e Deco fizeram-no após o Mundial da África do Sul – e só as próximas convocatórias de Paulo Bento irão esclarecer quem, de facto, já não vai continuar para o próximo ciclo. Se formos pelo critério da idade, estarão na porta de saída da selecção Ricardo Costa (33), Beto (32), Bruno Alves (32) e, eventualmente, Eduardo (31), Hélder Postiga (31), Raúl Meireles (31) e Pepe (31).

Com 30 estão, neste momento, Hugo Almeida e João Pereira, com 29, Ronaldo, Varela e Amorim, com 28, Miguel Veloso e Vieirinha. Os mais novos são Rafa (21), William Carvalho (22) e André Almeida (23), todos a dar os primeiros passos na selecção. Numa idade já de plena maturação competitiva, mas ainda com vários ciclos dentro de si estarão Fábio Coentrão (26), Éder (26), Rui Patrício (26), Luís Neto (26), João Moutinho (27) e Nani (27).

Depois, olhando para os que integraram a pré-convocatória, mas que não foram ao Mundial, nem todos podem ser encarados como opções de presente e de futuro. O caso de Ricardo Quaresma é o mais significativo. O extremo do FC Porto já vai fazer 31 anos em Setembro próximo e se não contou para Paulo Bento para este Mundial dificilmente entrará nas próximas escolhas. Antunes, lateral-esquerdo do Málaga, ainda pode regressar à selecção, mas sempre como opção de recurso para Coentrão, em relação ao qual é um ano mais velho. Logo a renovação da posição, quando tiver de ser feita, também não passará por ele. Rolando, central de 28 anos ligado FC Porto, poderá beneficiar da veterania entre quase todos os centrais da selecção e ganhar o seu espaço.

Quantos aos outros cinco que se ficaram pela pré-convocatória, tudo dependerá de como evoluírem competitivamente, se terão espaço nos seus clubes para crescer. Anthony Lopes (23 anos) irá ter, por certo, presença fixa entre o lote de guarda-redes, depois de ter conquistado a titularidade no Lyon, mas este será o caso menos problemático. O que trará a nova época a jogadores como Ivan Cavaleiro, João Mário e André Gomes? Irão ter minutos nas suas equipas, irão ter experiência competitiva que possa justificar uma presença permanente na selecção nacional? Cavaleiro tem sido pouco utilizado por Jorge Jesus no Benfica, João Mário vai regressar ao Sporting depois de meia época (que foi proveitosa) emprestado e André Gomes, vendido a um fundo, ainda não se sabe onde vai jogar.

A verdade é que, quanto mais os principais clubes portugueses apostarem em jogadores portugueses, mais visibilidade e experiência competitiva terão esses jogadores para chegar à selecção principal. E isso, com algumas excepções, não tem acontecido. No campeão nacional da última época, o Benfica, o primeiro português da lista dos mais utilizados aparece em 14.º e é André Almeida. No Sporting, a aposta na formação foi uma necessidade e deu os seus frutos, com quatro portugueses (Patrício, William, Cédric e Adrien) entre os cinco mais utilizados, tendo ainda jogadores como Carlos Mané e André Martins como opções regulares. No FC Porto, Varela ficou em sexto na lista dos jogadores com mais minutos na liga, mas a formação portista apenas utilizou seis portugueses no campeonato.

É na transição entre os escalões que se têm perdido os valores emergentes. Se jogadores como Figo, Rui Costa, João Pinto ou Cristiano Ronaldo chegaram cedo à selecção por terem sido apostas nos seus clubes ainda antes dos 20 anos, o mesmo não tem acontecido nos últimos anos. Das últimas duas selecções portuguesas que estiveram em Mundiais de sub-20 (2011 e 2013), apenas dois já foram internacionais A, Nélson Oliveira (2011) e Ivan Cavaleiro (2013), sendo que o avançado que passou a última época no futebol francês por empréstimo do Benfica já teve o seu baptismo em grandes competições como suplente utilizado no Euro 2012 – mas já não joga da selecção desde Outubro de 2013.

Fora da esfera dos três grandes, o Sp. Braga também se tem afirmado como fornecedor de jogadores à selecção - neste Mundial deu três, Eduardo, Rafa e Éder. É prova de que Paulo Bento pode e deve olhar para lá dos contextos habituais. Bebé, o melhor marcador português da liga, foi ignorado para o Mundial, mas o défice de avançados na selecção portuguesa obriga a que Paulo Bento o considere como alternativa viável. Equipas como o Vitória de Guimarães ou o Vitória de Setúbal também têm sido consistentes a lançar valores como André André, Marco Matias, Paulo Oliveira (já transferido para o Sporting) Pedro Tiba ou Ricardo Horta, Danilo Pereira tem-se mostrado como um valor sólido no meio-campo do Marítimo.

E depois há Bruma que, se não tivesse sofrido uma lesão grave durante a época ao serviço do Galatasaray, teria muito provavelmente estado entre os eleitos de Paulo Bento para o Brasil. O extremo luso-guineense é tido como a futura grande “estrela” do futebol português, mas a sua evolução competitiva no futebol turco, após a lesão, é uma incógnita. Pelo que já mostrou, tem tudo para ser um dos que acompanha o futuro “trintão” Cristiano Ronaldo em eventuais presenças nas fases finais do Euro 2016 e do Mundial de 2018. Depois do Mundial da Rússia, é bem provável que se comece a falar na sucessão do capitão da selecção.

Sugerir correcção
Comentar