Portugal-Alemanha à lupa: não houve ligação entre médios e avançados

Equipa académica analisou a forma como os futebolistas interagiram no jogo de estreia de Portugal no Mundial 2014.

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Análise da dinâmica das equipas. Cada bola representa um jogador. As setas representam os passes entre cada um destes jogadores
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Perdas de bola de cada jogador. Quanto maior a seta, maior o número de perdas de bola do jogador em causa
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Intensidade de passes das duas equipas (para ver a imagem completa, ir ao canto inferior direito e clicar no ícone mais à esquerda)

Nota Introdutória: A dinâmica de cada equipa ao longo do jogo pode ser captada em forma de rede. A rede é constituída por nós (jogadores posicionados aproximadamente como em campo) e ligações (setas) entre os nós. A análise da dinâmica da equipa implica que se incluam os jogadores substituídos (o tempo de jogo está indicado à frente do nome). Por isso, mais de 11 jogadores podem fazer parte da rede. Do mesmo modo, jogadores que não tenham feito um mínimo de 3 passes podem não aparecer na rede e deste modo temos as ligações mais estáveis na dinâmica da equipa

Na figura “rede de acções” (em cima) vemos as acções realizadas com a bola pelos jogadores (p.ex., passes, lançamentos, cortes de cabeça, cantos, cruzamentos). O tamanho dos nós (jogadores) é definido pelo número de passes de cada jogador. A largura das ligações aumenta em função do número de passes realizados entre dois jogadores. Os nós mais amarelos significam menor precisão nas acções; mais vermelho indica maior precisão.

Na rede de acções portuguesa vemos que foram essencialmente os defesas laterais que assistiram os extremos, nomeadamente Coentrão a assistir Ronaldo (31 passes, predominantemente a meio do campo e portanto sem perigo). No geral, foi muito reduzido o fluxo de passes dos médios para os atacantes, incluindo de Moutinho. Bruno Alves foi o jogador que mais passes efetuou (109 passes), revelando-se um jogador-chave na fase inicial de construção do ataque de Portugal. Este aspecto pode-se ligar ao facto de Pepe e João Pereira terem sido os jogadores com maior número de passes errados (28 e 30 respectivamente), como se pode ver em baixo na figura “Passes errados e Perdas de bola”, cujas setas apenas aparecem nos jogadores que realizaram mais de 3 destas acções.


Estes aspectos indiciam uma acção da Alemanha a dificultar a construção do ataque de Portugal. A Alemanha evidencia mais jogadores com passes precisos, uma ligação mais forte entre defesas centrais, médios-centro e extremo-esquerdo, nomeadamente através de Kroos. Muller foi o jogador que mais ligações teve com jogadores diferentes, o que tornou a dinâmica do ataque da Alemanha mais imprevisível.

Portugal tem muitas ligações fortes no sentido da própria baliza ou perpendicular ao sentido do ataque (Coentrão-Alves, Veloso-Coentrão, Moutinho-Pereira, Alves-Pepe, Nani-Moutinho), ao contrário da Alemanha que apresenta as suas ligações mais fortes no sentido do ataque. João Pereira e Miguel Veloso foram os jogadores que mais vezes perderam a bola para os alemães. 

A Alemanha tem uma densidade da rede de acções menor do que a portuguesa (0,665 e 0,697 respectivamente), mostrando ter realizado mais interacções entre todos os jogadores. Todavia, uma vez que a rede de acções de Portugal se encontra pouco conectada entre os médios e os atacantes, e Portugal revelou mais perdas de bola e passes falhados do que a Alemanha, isto revela uma dinâmica colectiva pouco eficaz. Por outro lado, a Alemanha apresenta um padrão mais flexível, com trocas posicionais e linhas de passe menos previsíveis, passes mais precisos e com acções localizadas mais ao centro.

Em termos gerais podemos ver que a intensidade de passes com sucesso ao longo do jogo foi superior na Alemanha, sobretudo no segundo tempo, em que marcou um golo aos 78’. Na primeira parte, a maior intensidade de passes oscilou entre Portugal e Alemanha, tendo Portugal sofrido 3 golos aos minutos 12, 32 e 45+1'.


Projecto do Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa em parceria com o Programa Doutoral em Ciências da Complexidade (ISCTE-IUL e FCUL).

Coordenador: Duarte Araújo (FMH-UL)
Equipa:
Rui Lopes (ISCTE-IUL e IT-IUL)
João Paulo Ramos (ISCTE-IUL)
José Pedro Silva (FMH-UL)
Carlos Manuel Silva (FMH-UL)

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