Normalmente, há mesmo quem pague pelos desastres europeus

O FC Porto sofreu em Munique um dos maiores desaires da sua história. No mesmo palco, o Sporting também viveu uma noite negra e Vigo causa pesadelos aos benfiquistas. E o que aconteceu depois?

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Jackson Martínez desolado após derrota do FC Porto frente ao Bayern por 6-1 JOHN MACDOUGALL/AFP

A expressão foi celebrizada por José Mourinho quando treinava o FC Porto. Pouco depois de ter aterrado no aeroporto Francisco Sá Carneiro após ter perdido a final da Supertaça europeia para o AC Milan por 1-0, a 29 de Agosto de 2003, o técnico desabafou: “É óbvio que fiquei frustrado com a derrota, já que queria ganhar. Mas alguém vai ter de pagar.” E pagou mesmo. A vítima foi o Sporting, derrotado no Estádio do Dragão quatro dias depois por 4-1, num jogo do campeonato.

E o que sucedeu no jogo seguinte a um humilhante descalabro europeu de FC Porto, Benfica e Sporting, os três clubes nacionais mais representativos? A resposta é quase sempre a mesma e está bem resumida na expressão de Mourinho, embora, como em toda a regra haja uma excepção.

A maior humilhação europeia de um dos três "grandes" pertence ao Benfica, na época de 1999-2000. Frente ao Celta de Vigo, na Galiza, os “encarnados” foram derrotados por 7-0, em jogo da primeira mão da terceira eliminatória da Taça UEFA. Um resultado que motivou um pedido de desculpas público por parte de João Vieira Pinto, na altura capitão de equipa. Depois do pesadelo, as “águias” responderam com um triunfo caseiro frente ao Campomaiorense por 2-0, para o campeonato.

Situação semelhante ocorreu com o Sporting. Na noite mais negra dos “leões” nas provas europeias, a equipa na altura orientada por Paulo Bento foi destroçada pelo Bayern, em Munique, por 7-1, na segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões da temporada de 2008-09. Isto depois de na primeira mão os sportinguistas terem sido goleados, em Lisboa, por 5-0. A resposta “leonina” ao descalabro na Alemanha surgiu na partida a contar para a I Liga, frente ao Rio Ave, em Alvalade, que venceu por 2-0.

Só o Fafe escapou ao castigo
Também o FC Porto costuma passar factura quando passa vergonha na Europa. Após o seu pior resultado de sempre em provas europeias (derrota por 6-1, perante o AEK de Atenas, na época de 1978-79, na primeira mão da primeira eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus) foi o Belenenses a pagar, sendo derrotado por 4-0 no Estádio das Antas.

Os portistas somam ainda mais três resultados semelhantes – derrotas por 5-0. A mais antiga, na já longínqua temporada de 1965-66, ocorreu frente ao Hannover, na extinta Taça das Cidades com Feira. A Académica foi a vítima dos portistas dessa vez, perdendo por 4-3.

A mais recente, na casa do Arsenal, em Londres, na segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões da temporada de 2009-10, e os “estudantes” voltaram a ser os alvos da reacção portista, sendo batidos em Coimbra por 2-1.

Pelo meio, encontra-se a mão cheia de golos sofrida pelos portistas na visita ao terreno do PSV Eindhoven, na primeira mão da segunda eliminatória da Taça dos Campeões Europeus da época de 1988-89. E aqui surge a única excepção à regra de o adversário seguinte ao descalabro europeu pagar com uma derrota o desejo de vingança dos humilhados.

Quatro dias depois do desastre vivido na Holanda, a equipa treinada por Quinito deslocou-se ao Estádio Municipal, em Fafe, e ficou-se por um nulo perante um adversário que terminaria no 16.º lugar de um campeonato composto por 20 clubes. Um resultado que ditou o afastamento do técnico. Na partida seguinte, os portistas foram dirigidos interinamente por Alfredo Murça antes da chegada de Artur Jorge.

Isto significa que o FC Porto (tal como Benfica e Sporting) nunca perdeu o jogo que se seguiu a um resultado humilhante na Europa, embora seja a primeira vez que a partida seguinte ao desaire europeu tem a relevância que o clássico de domingo assume.

Os “dragões” enfrentam, por isso, uma prova de fogo que vale mais do que a simples recuperação de uma imagem beliscada. Pode valer também um título.

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