Nem com o guarda-redes da selecção o Tarvas conseguiu uma vitória

O último classificado do campeonato da Estónia tinha um internacional na baliza, mas só conseguiu três empates em 36 jornadas.

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O Rakvere Tarvas apenas conseguiu três empates em 36 jogos na liga da Estónia DR

A Estónia é um daqueles países que, futebolisticamente, nunca conseguiu ultrapassar a irrelevância. Nunca nenhum dos seus clubes se destacou nos tempos da União Soviética e, depois da independência, o principal campeonato do país tem um estatuto semi-amador e não há notícia de grandes feitos dos clubes estónios nas provas da UEFA. Na sua história, apenas um jogador ganhou alguma projecção internacional, o guarda-redes Mart Poom, que andou muitos anos na Premier League e defendeu durante quase duas décadas a baliza da sua selecção. Em resumo, ninguém liga muito ao futebol estónio.

Muito pouca gente conseguirá dizer que se sagrou, há pouco mais de um mês, campeão nacional da Estónia, e ainda menos gente saberá quem foi o último classificado nessa liga semi-amadora de dez equipas. Mas quem olhar para a classificação final da Meistriiliga 2016 vai reparar, não nos 80 pontos do campeão Infonet Tallin, mas para os três pontos do último classificado, o Rakvere Tarvas. Apenas três empates e 33 derrotas em 36 jogos deste campeonato que se joga a quatro voltas, e, claro, com o pior ataque (15 golos marcados) e a pior defesa (113).

Para se ter alguns termos de comparação, a pior participação de uma equipa na primeira divisão portuguesa aconteceu em 1938-39, em que o Casa Pia, na sua única presença no primeiro escalão, teve apenas uma vitória (que valia dois pontos na altura) num campeonato de 14 jornadas. Na Bundesliga de 1965-66, o Tasmânia Berlim teve uma única e desastrosa presença entre os “grandes” do futebol alemão, detendo até hoje muitos dos recordes negativos da competição: menos vitórias numa época (2), mais derrotas numa época (28), menos pontos conquistados (8), menos golos marcados (15) e mais golos sofridos (108).

Nem Casa Pia, nem Tasmânia Berlim tiveram, no entanto, uma época tão desastrosa como o Tarvas, a pior equipa das primeiras divisões da Europa em 2016. Mas este até nem seria um desfecho totalmente inesperado, dadas as circunstâncias em que alcançara a promoção e a natureza muito amadora do clube. Em 2015, o Tarvas ficara em quarto lugar na segunda divisão, mas beneficiou do facto de os três que ficaram à sua frente serem equipas B de clubes da primeira divisão. E toda a dedicação de toda a gente envolvida não chega quando se trata de um clube que não paga salários e prémios de jogo aos seus jogadores, cuja maioria nem sequer vive na pequena cidade de Rakvere, que tem apenas 15 mil habitantes.

Entre os amadores do Tavras há, para quem conhecer com alguma profundidade o futebol estónio, um nome conhecido: o guarda-redes Marko Meerits, cinco vezes internacional pela selecção do seu país, duas delas já em 2016. Como é que um jogador com experiência internacional vai jogar para a pior equipa do seu país? Foi a única equipa que se mostrou disponível para o contratar, depois de ter sofrido uma lesão grave no joelho ao serviço do Emmen, equipa da segunda divisão holandesa.

Meerits, que chegou a fazer alguns jogos no Vitesse, chegou já com a época muito adiantada e acabou por não fazer a diferença – com ele na baliza em dez jogos, o Tavras conseguiu um empate e muitas derrotas pela margem mínima, incluindo uma por 1-0 contra o futuro campeão. Meerits não vai acompanhar o Tavras no regresso à segunda divisão (vai jogar no FC Flora, de Tallin, o maior clube do país), mas, mesmo sem o seu internacional na baliza, o clube quer voltar rapidamente ao convívio dos grandes, como explicou um assessor do clube, Andres Rattassep, ao site “Non Sense Football”: “A maioria dos jogadores vai continuar. Vão estar mais experientes e vamos tentar encarar esta temporada pelo lado positivo.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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