Tasmânia Berlim, a anedota da Bundesliga

Quando o Bayern Munique subiu à primeira divisão, foi acompanhado por uma equipa que ficou famosa pelos seus recordes negativos.

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O Tasmânia só durou uma época na Bundesliga DR

Em 1965, três equipas subiram de divisão na Bundesliga. Uma delas, o Borussia de Moenchengladbach, seria uma das forças dominantes do futebol alemão nos anos 1970, apresentando jogadores como Jupp Heynckes, temível goleador, ou Berti Vogts, um pilar da defesa, mantendo-se, com algumas oscilações, no principal campeonato germânico. Outra delas, o Bayern Munique, dispensa apresentações. É a melhor e mais poderosa equipa da Europa, tendo acumulado nos últimos anos múltiplos títulos germânicos e europeus. Quanto à terceira, o seu único legado é o de ser um termo de comparação recorrente para equipas más. Falamos do Tasmânia Berlim, a pior equipa da história da Bundesliga.

Voltemos um pouco atrás. Dois anos antes, em 1963, o futebol alemão sofreu uma profunda remodelação dos seus quadros competitivos, sendo criada a Bundesliga como forma de unificar os campeonatos regionais numa única competição. O Colónia venceu a primeira Bundesliga, o Werder Bremen venceu a segunda e, para a época 1965-66, resolveu-se aumentar a primeira divisão de 16 para 18 equipas. Não haveria despromoções, e seriam promovidas duas equipas para compor a mudança, só que um imprevisto obrigou a que fossem três os beneficiados. O Hertha de Berlim sofreu uma despromoção administrativa por pagar aos seus jogadores por debaixo da mesa.

Mas tinha de haver uma equipa da cidade dividida pelo muro e o lugar foi para ao colo do Sport Club Tasmânia 1900 Berlim. A liga regional de Berlim era uma das mais fracas da RFA e nenhuma das outras equipas da Bundesliga achava que a cidade merecesse um representante entre os grandes. Na verdade, Berlim nunca foi uma grande cidade de futebol e, depois do título do Hertha em 1931, nunca mais teve um campeão na Alemanha unificada – a Oberliga da RDA teve clubes como o Vorwarts Berlim ou o Dínamo como campeões, enquanto a RFA nunca teve um campeão da cidade.

O Tasmânia não estava preparado para esta promoção administrativa com motivações políticas. Ainda assim, conseguiu atrair para as suas fileiras Horst Szymaniak, um médio internacional alemão que andava perdido no futebol italiano, com passagens pelo Inter de Milão e pelo Varese, e que exigiu como bónus uma percentagem das receitas de bilheteira. Szymaniak foi a única contratação de peso para uma época que muitos perspectivam como suicídio desportivo.

Tudo parecia correr pelo melhor nos primeiros dias do campeonato. A 14 de Agosto, na jornada de abertura, em pleno Estádio Olímpico e com mais de 80 mil pessoas a assistir, o Tasmânia teve um início auspicioso, uma vitória por 2-0 sobre o Karlsruher. Os dois golos foram marcados por Wolf Ingo Usbeck, avançado formado nas escolas do clube que tinha a alcunha de “Ringo”, mas parecia-se pouco com o baterista dos Beatles.

Foi o momento mais alto de um percurso que quase imediatamente teve uma descida vertiginosa rumo a um fracasso espectacular. São dele quase todos os recordes negativos da liga alemã: menos vitórias numa época (2); mais derrotas numa época (28); menos pontos conquistados (8); menos golos marcados (15); mais golos sofridos (108); menor assistência num jogo em casa (827, num jogo com o Moenchengladbach). Tem também a maior série de jogos sem vencer, 32, só voltando aos triunfos na penúltima jornada, em casa frente ao Borussia de Neunkirchen (que seria o penúltimo classificado) por 2-1.

Nesta época o campeão seria o TSV Munique 1860 (o seu único título até hoje), enquanto o Tasmânia seguia sem surpresa para a segunda divisão, onde se aguentou até 1973, quando entrou em falência e foi refundado com outro nome. Actualmente, anda pela sexta divisão do futebol alemão e só é lembrado como uma anedota para gozar com alguém que nunca ganha.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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