Começou oficialmente a era Jorge Jesus no Sporting. Bruno de Carvalho confirmou nesta sexta-feira o que já era do domínio público desde a noite da última quarta-feira: o treinador bicampeão nacional pelo Benfica será o responsável pelo banco “leonino” durante as próximas três temporadas, mas só deverá assinar o acordo após terminar o vínculo com os “encarnados”, no final deste mês (um detalhe que explica o facto de Jesus ainda não ter sido apresentado).

A entrada do novo técnico não significou, contudo, a libertação do seu antecessor. Marco Silva permanece ligado aos “leões” até que seja encerrado o processo de despedimento por justa causa (o que pode demorar mais de 40 dias). A única forma de deixar o clube de Alvalade mais cedo será rescindir unilateralmente o contrato, podendo então assinar por outro clube.

“A única garantia que o nosso novo treinador me exigiu foi vir treinar o clube do seu coração”, anunciou Bruno de Carvalho, numa curta declaração, no auditório do Estádio José Alvalade. O presidente dos “leões” garantiu ainda que a contratação do novo treinador será integralmente suportada “com recursos financeiros próprios” da SAD (Sociedade Anónima Desportiva, que gere o futebol profissional), afastando a hipótese de serem investidores externos a apoiar uma operação que poderá custar aos cofres sportinguistas entre três e seis milhões de euros por cada uma das três temporadas do contrato, dependendo de serem alcançados determinados objectivos desportivos.

“Foram estes dois anos de trabalho em prol do reequilíbrio financeiro do clube que tornaram possível estarmos aptos a aumentar o investimento na nossa equipa de futebol com recursos financeiros próprios”, explicou: “Partimos para o novo ciclo com a sustentabilidade assegurada e com a ambição reforçada. Chegou o momento de todos terem a noção que os níveis de exigência neste clube mudaram. E com objectivos muito claros: voltar a ser campeões nacionais; apostar num projecto estruturante de médio e longo prazo; apostar no reforço da experiência no nosso plantel; continuar a aposta na formação como prioridade.”

Ganhar tempo
A confirmação da chegada de Jorge Jesus a Alvalade surge num momento em que Marco Silva ainda não se desvinculou oficialmente da SAD do clube, apesar de ter sido suspenso das suas funções e alvo de um processo disciplinar com vista a um despedimento com justa causa, na última quinta-feira. Após ter recebido a nota de culpa, Marco Silva tem 10 dias úteis para responder por escrito, podendo requerer testemunhas para a sua defesa ou outros meios de prova. Encerradas as diligências probatórias, o Sporting terá um prazo de 30 dias para decidir se avançará para o despedimento por justa causa.

Teoricamente, o treinador não poderia negociar com nenhum outro clube enquanto decorresse este processo — o que dificultaria a sua contratação por outro clube — mas existe a possibilidade do próprio Marco Silva optar por rescindir o seu contrato, alegando ele próprio uma justa causa, como defendeu ao PÚBLICO Tiago Cortes, especialista em Direito Laboral. “Na minha opinião, a partir do momento em seja oficializada a contratação de outro treinador para assumir as suas funções, poderá ser o próprio treinador a ‘contra-atacar’, ou seja, a evocar justa causa para se libertar do contrato e poder assumir qualquer tipo de compromisso com outro clube. O Sporting estaria a incumprir com a sua obrigação contratual com o técnico, o que constitui um motivo de justa causa para Marco Silva rescindir”, defendeu este jurista, sócio do departamento laboral da PLMJ.

Em comunicado divulgado na tarde de sexta-feira, através das redes sociais, Bruno de Carvalho referiu-se pela primeira vez ao processo de despedimento do seu treinador, esclarecendo que esta ruptura se ficou a dever a “circunstâncias pessoais”, que qualificou como “extremamente graves”: “Decidiu a administração da Sporting SAD, por unanimidade, esgotada a tentativa de chegar a um acordo com o treinador Marco Silva, instaurar um processo disciplinar com vista ao seu despedimento com justa causa não por consequência da falta de acordo, mas pelo número significativo de ocorrências que tiveram lugar e que, a nosso ver, causaram uma ruptura de relacionamento com o treinador do clube.”

Benfica negoceia com Vitória
O líder “leonino” garantiu, por outro lado, que, “findo este processo [de despedimento]”, lhe são “indiferentes” as opções profissionais que Marco Silva venha a tomar, mesmo que elas passem por um clube rival. O Benfica tem sido apontado nas últimas horas como uma possibilidade, mas, para já, os “encarnados” estarão a negociar com o Vitória de Guimarães a possibilidade da contratação de Rui Vitória.

A confirmação foi feita nesta sexta-feira por Armando Marques, vice-presidente do clube minhoto. “Os presidentes dos dois clubes estão a falar. Conhecemos as regras do jogo e o que o V. Guimarães e Benfica decidirem será do agrado de todas as partes intervenientes, incluindo do treinador”, adiantou este dirigente ao jornal O Jogo. Na véspera, o presidente benfiquista, Luís Filipe Vieira, negara a existência de um pré-acordo com qualquer técnico para substituir Jorge Jesus.