Velhos Stradivarius ou violinos novos? Os solistas preferem os últimos

Uma dezena de violinistas participaram numa experiência para saber se os antigos violinos italianos têm um som melhor do que os novos violinos.

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Violinista russo Ilia Kaler a testar um violino Stefan Avalos

Dez solistas tocaram em seis violinos antigos e seis violinos modernos numa experiência para testar se os instrumentos antigos são, de facto, melhores do que os construídos recentemente, como é defendido por muitos. Os resultados põem em causa esta ideia antiga: os solistas preferiram os novos instrumentos, conclui um artigo publicado esta segunda-feira na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), que entre vários resultados revela que estes músicos, em geral, não conseguiram distinguir se estavam a tocar num violino antigo ou moderno.

“Os violinos antigos têm mais cores, personalidade, carácter e refinamento e são mais suaves e melodiosos do que os novos.” Esta frase, que se lê no artigo da PNAS, resume uma das três grandes distinções entre os violinos antigos e novos, segundo a opinião de seis dos dez solistas de renome convidados a integrar a experiência de Claudia Fritz, da Universidade de Sorbonne, em Paris, França, e colegas. As outras duas diferenças assinaladas pelos solistas punham os louros do lado dos novos violinos, que são mais fáceis de tocar e mais potentes do que os antigos, além de que os velhos violinos podem não ser suficientemente potentes para tocar nas novas orquestras.

Ironicamente, a principal opinião que valoriza os antigos violinos italianos, como os famosos Stradivarius, é a única que não se confirma pelos resultados da experiência. A cor, a personalidade, o carácter ou o refinamento são adjectivos usados pelos solistas da experiência para descrever os sons dos violinos e que os investigadores interpretaram como sendo “aspectos do timbre”. Ora, em relação ao timbre, a avaliação dos velhos e dos novos violinos feita pelos solistas é igual. Quanto ao resto, a facilidade com que se tocam e a projecção do som, a nova geração é que ganha.

Segundo Claudia Fritz e colegas, o som dos violinos italianos do século XVII e XVIII é visto “como tendo qualidades que são imediatamente identificáveis por músicos experientes e não são encontradas nos novos instrumentos”, lê-se no artigo.

Nos últimos dois séculos, foram feitos vários testes a novos instrumentos que já punham em causa esta ideia. Em 2010, 21 músicos tocaram violinos sem saberem se eram antigos ou modernos e a conclusão desta experiência é que, afinal, preferiam os novos. Além disso, esses músicos não foram capazes de dizer se o seu violino favorito, entre os três antigos e três modernos que usaram, era antigo ou moderno.

Mas a experiência de 2010 tinha algumas limitações, como o pequeno número de violinos testados por cada músico, ou o facto de não terem tocado em sala de concertos.

Agora, os dez solistas desta experiência testaram 12 violinos (seis modernos, com menos de 20 anos e um design antiquado, e seis antigos, incluindo cinco Stradivarius). Os músicos usaram óculos que não os deixavam perceber a idade dos violinos e testaram-nos primeiro numa sala pequena e depois numa sala de concerto para 300 pessoas.

Os investigadores pediram aos músicos para eleger os quatro melhores violinos, aos quais foram dadas pontuações, e aquele que ficasse em primeiro lugar para cada violonista seria aquele com que ele iria tocar na próxima tournée.

Os cientistas obtiveram uma grande variabilidade nas respostas. Por exemplo, cinco dos 12 instrumentos foram a escolha número “um” de pelo menos um músico. E dez instrumentos estiveram presentes em pelo menos uma das listas dos quatro melhores instrumentos feita por cada solista.

Ainda assim, houve uma preferência pelos instrumentos modernos. O violino que obteve mais pontuação foi um da nova geração. Seis dos dez violinistas escolheram um novo violino como o preferido. Além disso, se a pontuação dos novos violinos e dos velhos for somada separadamente, os violinos novos ganham a competição. “É claro que, entre estes músicos e entre estes instrumentos, há uma preferência geral pelos novos violinos”, escrevem os cientistas.

Por outro lado, os cientistas quiseram saber se os músicos conseguiam distinguir o som de violinos antigos e modernos depois de tocarem durante 30 segundos em vários deles. Das 69 tentativas feitas pelos dez músicos, os solistas erraram 33, acertaram 31 e cinco deram uma resposta que os investigadores consideraram indeterminada. Estes resultados “demonstram claramente a incapacidade dos músicos em adivinhar correctamente a idade do instrumento, ou seja, se era novo ou velho”, escrevem os autores.

Para a equipa, não há forma de saber qual a representatividade dos resultados, já que só testaram dez solistas. No entanto, lê-se no artigo, “dada a importância e a experiência dos nossos solistas, são necessárias provas empíricas para se continuar a defender a existência de qualidades únicas no som dos antigos violinos italianos.”

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