Por que é que as mulheres vivem mais do que os homens?

Foto
Aos 85 anos, há cerca de seis mulheres por cada quatro homens Pedro Cunha (arquivo)

Por que é que as mulheres vivem, em média, mais tempo do que os homens? Por volta dos 85 anos de idade, há cerca de seis mulheres para quatro homens. Aos 100 anos, essa relação é de é mais de duas mulheres para um homem. Uma equipa de cientistas virou-se para as moscas-da-fruta à procura de uma resposta para esta diferença entre elas e eles e diz tê-la encontrado nas mitocôndrias, as chamadas “baterias” das células, cujo ADN apenas é herdado das nossas mães.

A equipa da Universidade de Monash, na Austrália, e da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, observou o ADN mitocondrial de 13 grupos de moscas-da-fruta. Publicados nesta quinta-feira na revista Current Biology, os resultados indicam que determinadas variações genéticas nas mitocôndrias são indicadores fiáveis da esperança de vida dos machos, ao afectarem a sua duração de vida e a velocidade a que envelhecem. O mesmo, no entanto, não acontece com as fêmeas.

“Curiosamente, estas mutações não têm efeitos no padrão de envelhecimento das fêmeas. Só afectam os machos”, diz Damien Dowling, da Universidade de Monash, citado num comunicado.

A resposta para este mistério remete-nos para os processos de selecção natural e a forma como actuam no ADN mitocondrial, que, ao ser passado à descendência apenas pelas fêmeas, deixa os machos de fora dessa transmissão. Assim, o homem não transmite as mitocôndrias aos filhos, são as mulheres quem têm esse papel. Embora se mantenham saudáveis, eles podem não ter mecanismos que contrabalancem os efeitos negativos de certas mutações genéticas, uma vez que também não irão passá-las às gerações seguintes.

“As crianças recebem cópias da maioria dos genes por parte da mãe e do pai, mas os genes mitocondriais só são herdados pela mãe. Isto significa que o controlo de qualidade feito pela evolução – conhecido como selecção natural – só filtra a qualidade de genes mitocondriais das mães”, explica Dowling. “Se ocorrer uma mutação nas mitocôndrias que prejudique os homens, mas que não tenha efeito nas mulheres, essas mutações vão escapar à selecção natural e passar despercebidas. Ao longo de milhares de gerações, acumularam-se muitas destas mutações que prejudicam os homens, enquanto as mulheres ficaram incólumes.”

A equipa de Damien Dowling já tinha descoberto que mutações no ADN mitocondrial que interferem na fertilidade dos machos, sem afectar a das fêmeas. “Agora procurámos investigar os mecanismos genéticos que podem afectar os homens para anular os efeitos negativos e mantê-los saudáveis.”

Partindo das moscas para os humanos, o raciocínio pode ser o mesmo. “Todos os animais têm mitocôndrias e a tendência para as fêmeas viverem mais do que os machos é comum a várias espécies”, diz Dowling. “Portanto, os resultados sugerem que, genericamente, as mutações mitocondriais descobertas vão causar um envelhecimento mais rápido nos machos de todo o reino animal.”

Sugerir correcção
Comentar