Pablo Neruda tinha cancro da próstata avançado, indicam primeiros exames

Escritor chileno morreu de doença ou foi assassinado pelo regime de Pinochet? Pelo menos, os primeiros exames já encontraram os vestígios da doença.

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Pablo Neruda em 1971, dois anos antes da sua morte STF

Os primeiros exames aos restos mortais de Pablo Neruda, exumado a 8 de Abril da sua sepultura na cidade chilena de Isla Negra, indicam que o escritor tinha um cancro da próstata em estado avançado e com metástases – avançou nesta quinta-feira a agência noticiosa espanhola Efe.

O relatório com os resultados dos exames radiológicos e histológicos, realizados no Serviço Médico-Legal do Chile, já foi entregue ao juiz Mario Carroza, que em 2011 abriu uma investigação à morte de Pablo Neruda, depois de o seu antigo motorista ter dito que tinha sido envenenado com uma injecção letal quando estava internado na Clínica de Santa María, em Santiago do Chile. No entanto, além dos exames radiológicos e aos tecidos, ainda há outras análises para fazer aos ossos.

A certidão de óbito emitida pela clínica dizia que o cancro da próstata se agravou de tal forma que originou a morte do escritor, refere o jornal espanhol El Mundo no seu site. Pablo Neruda, que era militante do Partido Comunista e foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura de 1971, morreu apenas 12 dias após o golpe militar que, em 1973, depôs o Presidente Salvador Allende, de quem era amigo, e que levou ao poder Augusto Pinochet, que instaurou uma ditadura até 1990. Tinha 69 anos.

Quatro dias antes da morte de Neruda, a 19 de Setembro de 1973, o escritor deu entrada na clínica e foi de lá que o motorista, Manuel Araya, diz ter recebido um telefonema dele. Para o dia seguinte, 24 de Setembro, Neruda tinha programada a viagem em que se exilaria no México. Por isso, o motorista e a terceira mulher de Neruda, Matilde Urritia, foram a Isla Negra, 120 quilómetros a norte de Santiago, buscar roupas, livros, dinheiro e o manuscrito da autobiografia Confesso que Vivi.

“Na manhã de 23 de Setembro, Matilde e eu fomos a Isla Negra buscar os seus pertences. Enquanto lá estávamos, recebemos um telefonema de Neruda na clínica. Ele disse: ‘Venham depressa. Quando estava a dormir, um médico veio e deu-me uma injecção no estômago’”, recordou o motorista, citado pela BBC online, acrescentando que Neruda morreu por volta das 11 da noite desse dia. “Estou com muitas dores e a arder de febre”, terá ainda dito Neruda segundo Manuel Araya, agora citado pelo jornal britânico The Independent.

Na sequência deste testemunho do motorista, inicialmente à revista mexicana Proceso em 2011, acusando o regime de Pinochet de ter ordenado a morte do escritor, o Partido Comunista do Chile apresentou uma denúncia de homicídio. O juiz Mario Carroza ordenou, em Março deste ano, a exumação dos restos mortais do escritor e poeta, que tinham sido trasladados do Cemitério Geral de Santiago em 1992 para o jardim da sua casa em Isla Negra, com vista para o Pacífico.

Agora, as ciências forenses permitiram, pelo menos, indicar que o cancro de Pablo Neruda já se tinha espalhado pelo corpo. Nos próximos dias, um laboratório nos Estados Unidos irá fazer análises aos ossos, para tentar verificar a hipótese de homicídio, procurando tanto sinais do cancro nos ossos como de substâncias tóxicas através de análises químicas.

“Para além de se ter estabelecido que Pablo Neruda tinha um cancro da próstata, aqui o que é central determinar é se foi realmente assassinado com uma injecção letal quando estava internado na Clínica Santa María”, disse o advogado dos queixosos, Eduardo Contreras, à agência Efe, segundo o jornal El País. “Nesse sentido, o importante são as amostras ósseas que se enviaram para os Estados Unidos.”
 
 
 

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