Miguel Seabra não foi à entrega dos Prémios Bial por “motivos de saúde”

Presidente demissionário da Fundação para a Ciência e a Tecnologia distinguido por trabalho sobre cegueira.

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Miguel Seabra Nuno Ferreira Santos

O vencedor do Grande Prémio Bial de Medicina 2014, Miguel Seabra, não participou na sessão de entrega do galardão esta quarta-feira por “motivos de saúde”, informou o presidente da Fundação Bial, Luís Portela. Miguel Seabra – cuja demissão da presidência da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) tinha sido anunciada na terça-feira por “razões pessoais”, sem que fossem então dadas mais explicações – considerou, numa mensagem escrita lida na cerimónia, que este prémio é “um dos pontos mais altos” da sua carreira.

O Grande Prémio Bial de Medicina deste ano, de 200 mil euros, foi entregue a Miguel Seabra e à sua equipa pela investigação científica nos últimos 20 anos da coroideremia, uma doença genética rara que causa a degeneração da retina. Afecta principalmente os homens e, depois dos 50 anos, as pessoas estão quase cegas. Além de descobrirem a causa desta doença, Miguel Seabra e a sua equipa desenvolveram uma terapia genética que está agora a ser testada e tem tido bons resultados.

Entretanto, o Partido Socialista (PS) reagiu esta quarta-feira à demissão de Miguel Seabra da presidência da FCT, dizendo em comunicado que essa saída “é o resultado de uma política errada e altamente contestada pela comunidade científica que teimosamente vem sendo seguida por este Governo”. “Espera-se que o ministro da Educação e Ciência arrepie caminho, dê a mão à palmatória e corrija os erros que criou ao longo destes anos, que foram negros para a ciência”, lê-se ainda no comunicado do PS, referindo-se aos cortes nas bolsas de investigação e à avaliação das unidades de investigação.

Na entrega dos Prémios Bial – que distinguiram também com 100 mil euros o trabalho de Jorge Polónia, da Universidade do Porto, e colegas sobre os malefícios do sal em Portugal, e deram ainda duas menções honrosas de dez mil euros cada uma –, Luís Portela considerou que é “quase crime” as empresas portuguesas não aproveitarem os resultados da investigação científica. “[O Estado] deve focar a atenção dos portugueses na grande riqueza de conhecimento acumulado do lado das universidades e que não está a ser explorada, não está a ser aproveitada sob o ponto de vista económico”, disse Luís Portela. “Portugal desenvolveu-se de uma forma muito importante na ciência. Na minha opinião, é quase crime não aproveitar na vertente económica do país os conhecimentos acumulados.”

E exortou as empresas portuguesas a contratar doutores, frisando que Portugal é o país da Europa que tem menos doutorados a trabalhar em empresas, bem como a apostar no mecenato científico. “Ir buscar o conhecimento com contratos, com parcerias com as instituições de investigação e finalmente ter atitudes mecenáticas”, sugeriu, salientando ainda que o mecenato científico “infelizmente não é muito tradicional”, ao contrário do que sucede nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha. A empresa farmacêutica assumiu há 30 anos a aposta de apoio à investigação científica, lembrou Luís Portela, consubstanciada, para além dos Prémios Bial, em 460 bolsas atribuídas a um conjunto de 1.200 investigadores de 26 países diferentes.

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