Mais de 400 canoas desceram o Mondego contra construção de mini-hídrica

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O protesto terá sido o maior realizado num rio em Portugal Foto: Sérgio Azenha/arquivo

Mais de 800 pessoas em cerca de 400 canoas desceram ontem o rio Mondego, entre Penacova e Coimbra, para protestar contra a construção de uma mini-hídrica na Foz do Caneiro.

O protesto terá sido o maior realizado num rio em Portugal e, segundo a organização, a plataforma Mondego Vivo, "um dos maiores da Europa".

O extenso e colorido carrossel de canoas, que partiu a jusante da ponte de Louredo para percorrer cerca de 12 quilómetros, teve como objectivo a defesa da actividade turística (canoagem), a protecção da lampreia e ainda da actividade agrícola nos terrenos que poderão ficar submersos nos quatro quilómetros de albufeira previstos no projecto.

Paulo Silva, da Plataforma Mondego Vivo, que reúne autarquias, associações ambientalistas, e, entre outros, as empresas de animação turística que contestam a mini-hídrica, defendeu em declarações à Agência Lusa que "nada justifica" esta construção". "Esta mini-hídrica, se for construída, vai produzir uns escassos nove megawatts, que é aquilo que o Governo pretende trocar por uma grande actividade de empresas de animação turística, com mais de 30 mil pessoas a descer o rio todos os anos", sublinhou Paulo Silva, recordando ainda que a canoagem neste percurso tem um volume de negócios anual de cerca de meio milhão de euros.

Os contestários alertam ainda para os efeitos da construção no ciclo de vida da lampreia. "Curiosamente é na Foz do Caneiro, onde vai ser construída a mini-hídrica, que a lampreia mais precisa de água pouco profunda para desovar".

Esta foi a primeira vez que as empresas de animação turística se associaram num protesto com esta dimensão e, frisa Paulo Silva, a iniciativa foi uma "advertência ao Governo e à concessionária", a construtora Mota Engil, de que "o protesto vai continuar" e que as pessoas estão preparadas para "organizar manifestações em Coimbra e na Assembleia da República". Paulo Silva garantiu ainda à Lusa que a via judicial está igualmente equacionada, dependendo do que vai acontecer daqui para a frente.

Presente neste protesto, Serpa Oliva, um dos participantes frequentes nas descidas do rio, deputado do CDS e candidato por Coimbra às eleições de 5 de Junho, realçou à Lusa o "paradoxo" que é "ter-se gasto três milhões de euros na Ponte Açude para permitir que a lampreia suba o rio e depois bloquear essa mesma subida com um paredão de dez metros uns quilómetros a montante".

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