Godzilla, um planeta rochoso 17 vezes mais maciço do que a Terra

Cientistas pensavam que não era possível formar-se um planeta mega-rochoso, como o que acaba de ser anunciado.

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Imagem artística do mega-planeta rochoso (em primeiro plano) e de outro planeta em órbita de uma estrela a 560 anos-luz de nós David A. Aguilar/Centro para a Astrofísica Harvard-Smithsonian

Foi descoberto um novo tipo de planeta extra-solar: um mega-planeta rochoso que tem 17 vezes a massa da Terra e que poderá mudar a nossa compreensão sobre o início do Universo. Como é muito maior do que as super-Terras que têm vindo a ser encontradas à volta de outras estrelas que não o nosso Sol, os cientistas puseram-lhe o nome do rei dos monstros – Godzilla.

Este planeta de composição sólida rochosa, situado a 560 anos-luz de distância da Terra, foi detectado pelo telescópio espacial Kepler, lançado em 2009 pela agência espacial norte-americana NASA, anunciou a equipa responsável pela descoberta numa conferência de imprensa durante uma reunião da Sociedade Americana de Astronomia, em Boston (EUA).

Este mega-planeta, denominado Kepler-10c, tem 29.000  quilómetros de diâmetro, o que é 2,3 vezes o diâmetro da Terra. “A surpresa foi total quando nos apercebemos do que tínhamos encontrado”, diz o coordenador do estudo, o investigador Xavier Dumusque, do Centro para a Astrofísica Harvard-Smithsonian (EUA), citado num comunicado desta instituição.

O primeiro planeta extra-solar, ou seja, noutro sistema solar, foi descoberto em 1995, por uma equipa suíça. Desde então, a lista de planetas extra-solares foi crescendo, sendo actualmente cerca de mil. Os primeiros encontrados eram gigantes feitos de gases, como Júpiter, até que em 2004 se detectou a primeira super-Terra, um planeta rochoso como o nosso.

Mas até ao momento, os cientistas não encaravam a existência de um tal “monstro rochoso” como o Godzilla. Porque quanto maior é um planeta, maior é a sua atracção gravitacional, o que não só esmaga não os materiais sólidos como também atrai grandes quantidades de hidrogénio, transformando o planeta num gigante gasoso, como Júpiter.

“É o Godzilla das Terras!”, diz Dimitar Sasselov, director do programa sobre as origens da vida na Universidade de Harvard, nos EUA. “Mas, contrariamente ao monstro do filme, Kepler-10c tem implicações positivas para a vida”, acrescenta este investigador, segundo o comunicado.

O telescópio Kepler (que deixou entretanto de funcionar) era capaz de identificar planetas, mas não permitia dizer se eram gasosos ou rochosos. O tamanho de Godzilla sugeria tratar-se de uma categoria de planetas conhecidos como “mini-Neptunos”, cobertos por uma camada espessa de hidrogénio e hélio.

Ora, um telescópio nas ilhas Canárias pôde determinar que a massa deste mega-planeta, conduzindo à conclusão de que tinha uma massa 17 vezes superior à da Terra, o que é bastante mais do que se supunha e mostrava que o Kepler-10c  devia ter uma composição densa de rochas.

“O Kepler-10c conservou a atmosfera ao longo da sua evolução, porque é suficientemente maciço para que a atmosfera pudesse escapar”, explica Xavier Dumusque.

Mas este mega-planeta, que demora 45 dias a completar uma órbita a uma estrela semelhante ao nosso Sol, localizada na constelação do Dragão, parece ser quente de mais para que a vida possa aí sobreviver. O planeta faz parte do sistema solar Kepler-10, onde existe um outro denominado Kepler-10b, com três vezes a massa da Terra e que dá uma volta à estrela em apenas 20 horas.

O sistema planetário Kepler-10, onde este novo planeta se insere, tem cerca de 11.000 milhões de anos, o que significa que se formou menos de 3000 de anos depois do Big Bang, segundo os cientistas. Por isso, O Kepler-10c veio também demonstrar-nos que o Universo pode criar planetas rochosos grandes, mesmo numa altura em que os elementos químicos pesados necessários para tal, como o silício e o ferro, eram raros (o Universo primitivo não continha senão apenas hidrogénio e hélio). 

“A descoberta de Kepler-10c é a prova de que os planetas do tipo terrestre se formaram muito cedo na história do Universo”, diz Dimitar Sasselov. “E quem diz planetas rochosos diz a possibilidade de aparecimento da vida.”

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