Maioria dos portugueses, franceses e espanhóis é contra as touradas, revela inquérito

A sondagem contou com a participação de 7500 pessoas, 2500 das quais portuguesas. 77% diz-se contra as touradas por ser uma forma de maus tratos a animais que é financiada com o dinheiro dos impostos.

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Maioria dos portugueses, franceses e espanhóis é contra as touradas Diego Gómez Tejedor/Unsplash

A maioria dos portugueses, franceses e espanhóis que participaram num inquérito sobre tauromaquia disse ser contra esta “tradição” que, defendem, é uma forma de maus tratos financiada com o dinheiro dos impostos.

A sondagem, realizada pela empresa de estudos de mercado Ipsos I&O Public, contou com a participação de 7500 pessoas (2500 em cada país). Portugal, Espanha e França foram escolhidos porque são os únicos países europeus que continuam a permitir touradas, incluindo em festas religiosas.

Feitas as contas, 77% dos participantes declarou ser contra esta prática que inflige dor e sofrimento aos animais; 58% são a favor da proibição e apenas 11% apoiam a tauromaquia, evento que descrevem como “agradável”, lê-se no comunicado enviado ao P3.

O inquérito, realizado a pedido da ONG dos Países Baixos CAS International, salienta ainda que apenas uma em cada cinco pessoas consideram que as touradas são uma “tradição valiosa”. No entanto e de uma forma geral, 74% acredita que a União Europeia deveria proteger o bem-estar dos animais, inclusive nas chamadas “tradições culturais”, como é o caso das touradas, em vez de deixar o tema à responsabilidade dos Estados-membros.

Depois dos espectáculos, acrescenta o estudo, os touros morrem de forma “lenta e dolorosa” e a carne destina-se ao consumo humano.

Além do sofrimento animal, grande parte dos participantes do estudo disse ser contra as touradas porque são financiadas com dinheiros nacionais ou europeus resultantes do pagamento de impostos. De acordo com o inquérito, “cerca de 200 milhões de euros por ano” destinam-se, sob a forma de subsídios agrícolas, às touradas.

Maus tratos preocupam esquerda e direita

Segundo a Ipsos I&O Public, a sondagem inclui eleitores de esquerda, direita e do centro. Os participantes, lê-se no comunicado, foram questionados sobre o partido em que votaram nas últimas eleições de cada país. Os temas sobre os maus tratos a animais e as responsabilidades da União Europeia em relação ao bem-estar dos mesmos são preocupações transversais aos eleitores de todas as facções políticas.

“De um modo geral, as mulheres foram mais críticas em relação às touradas do que os homens”, acrescentam.

Outra das críticas apontadas à tauromaquia é o facto de os eventos permitirem a entrada de crianças. Para 65% dos inquiridos, os menores de 18 anos deveriam ser proibidos de assistir a touradas por entenderem que se trata de violência.

Sobre isto, o inquérito recorda que, em 2014, o Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas pediu aos Estados-membros para recusarem a entrada de menores de 18 anos nas touradas. Portugal foi o único país que aprovou um decreto-lei com a medida, em 2021, durante um Conselho de Ministros do Governo de António Costa, mas que nunca chegou a ser publicado.

A idade mínima para assistir a eventos tauromáquicos passaria de 12 para 16 anos, “contudo, até hoje, esta mudança de classificação etária ainda não foi promulgada”, declarou Rita Silva, Presidente da ANIMAL, membro fundador e coordenador da Rede Internacional Anti-Tauromaquia, citada pelo comunicado.

“Lamentavelmente, continuamos a desrespeitar a recomendação da ONU e a classificação continua a ser de 12 anos”, acrescentou.

No início de Maio, o Ministério da Cultura de Espanha decidiu suspender, pelo menos este ano, o Prémio Nacional de Tauromaquia, mas o objectivo é acabar definitivamente com a distinção. A medida foi anunciada pelo ministro da Cultura do país, Ernest Urtasun, que afirmou antes de assumir o cargo que privilegiaria a protecção e o bem-estar dos animais à tauromaquia.

Segundo o estudo, em Espanha realizam-se 18 mil espectáculos por ano.

Dias depois da suspensão do prémio, escreve o Guardian, a empresa Pages, que gere a praça de touros de Sevilha, ofereceu bilhetes gratuitos a crianças com menos de 8 anos por acreditar ser “a melhor forma de introduzir as touradas aos mais pequenos”.

Em Portugal, 2023 foi o ano com menos touradas de sempre. No total, conforme noticiou o P3, foram realizados 166 eventos tauromáquicos neste ano. Em 2014 foram 221.

Além dos três países europeus do inquérito, México, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela também permitem touradas.

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